Miss Violence retrata de forma contundente uma situação de violência doméstica — esta nota foi publicada no Diário de Notícias (24 Novembro).
É bem verdade que o calendário do mercado cinematográfico português continua marcado por muitos desequilíbrios: o filme grego Miss Violence, por exemplo, tem data de 2013 e só agora chega às nossas salas. Em todo o caso, seria errado diminuir a sua importância temática e também as qualidades da realização de Alexandros Navras — foi, aliás, distinguido em Veneza/2013 com o prémio de realização, tendo o protagonista Themis Panou arrebatado um prémio de interpretação.
Trata-se de construir um olhar sobre a violência doméstica, não a partir de abstracções “sociológicas” mais ou menos “simbólicas”, mas sim de dar conta da paisagem íntima de uma família cujo pai (interpretado por Themis Panou, precisamente) mantém as mulheres de sua casa num regime de repressão e abuso sexual verdadeiramente dantesco — tudo através de um exacerbado culto das aparências. Contando com um leque de excelentes actores, Navras trabalha num registo de intenso realismo de que está ausente qualquer especulação gratuita ou sensacionalista.