Um artigo de Michael Wolff em The Hollywood Reporter (acompanhado por um video da CNN) propôs um balanço contundente das relações dos media com (a vitória de) Donald Trump — esta crónica de televisão foi publicada no Diário de Notícias (18 Novembro).
Cerca de 24 horas depois de conhecidos os resultados das eleições americanas, o jornalista e ensaísta Michael Wolff publicava em The Hollywood Reporter um artigo com um título eloquente: ‘A vitória de Trump expõe as falhas e a presunção dos media’. Publicidade, sondagens, apoio de celebridades... Não só um importante sector dos media se enganou “em quase tudo”, como foi contra aquilo que ele representa que o “partido de Trump” votou.
Num país como o nosso, em que escasseia o pensamento sobre a dimensão política de qualquer forma de jornalismo — a começar pelo jornalismo televisivo —, poderá pensar-se que, como os comentadores do futebol a avaliar a “justiça” dos golos, Wolff está a tentar distribuir “culpas”. Nada disso: o seu artigo é uma reflexão sobre o modo como qualquer discurso jornalístico, mesmo na mais patética ignorância, existe como veículo de uma determinada visão do mundo.
Crise filosófica do jornalismo? Sem dúvida. Mas mais do que isso: assistimos à “falha das técnicas do moderno jornalismo”, vivemos “o dia em que a matéria informativa morreu”. Porquê? Porque “todo o dinheiro gasto por uma indústria mediática em crise na produção de sondagens e análises de sondagens serviu para zero”. De tal modo que se “gerou uma narrativa atraente e poderosa que era, afinal, o oposto do que estava a acontecer”.
A caricatura de tudo isto vêmo-la, todos os dias, em televisões de todos os países, com jornalistas a repetir frases ou números expostos em gigantescos ecrãs, como se ter um ecrã de grafismo “modernaço” fosse um oráculo indesmentível. Em boa verdade, muitas vezes, a utilização de tal aparato é sintoma de uma visceral incapacidade para olhar o mundo à nossa volta. O problema não está, nunca esteve, num mero “pró” ou “contra” Donald Trump, mas sim na existência desse olhar — e na exigência ética que o fundamenta.