segunda-feira, novembro 21, 2016

Pró ou contra Donald Trump?

Um artigo de Michael Wolff em The Hollywood Reporter (acompanhado por um video da CNN) propôs um balanço contundente das relações dos media com (a vitória de) Donald Trump — esta crónica de televisão foi publicada no Diário de Notícias (18 Novembro).

Cerca de 24 horas depois de conhecidos os resultados das eleições americanas, o jornalista e ensaísta Michael Wolff publicava em The Hollywood Reporter um artigo com um título eloquente: ‘A vitória de Trump expõe as falhas e a presunção dos media’. Publicidade, sondagens, apoio de celebridades... Não só um importante sector dos media se enganou “em quase tudo”, como foi contra aquilo que ele representa que o “partido de Trump” votou.
Num país como o nosso, em que escasseia o pensamento sobre a dimensão política de qualquer forma de jornalismo — a começar pelo jornalismo televisivo —, poderá pensar-se que, como os comentadores do futebol a avaliar a “justiça” dos golos, Wolff está a tentar distribuir “culpas”. Nada disso: o seu artigo é uma reflexão sobre o modo como qualquer discurso jornalístico, mesmo na mais patética ignorância, existe como veículo de uma determinada visão do mundo.


Crise filosófica do jornalismo? Sem dúvida. Mas mais do que isso: assistimos à “falha das técnicas do moderno jornalismo”, vivemos “o dia em que a matéria informativa morreu”. Porquê? Porque “todo o dinheiro gasto por uma indústria mediática em crise na produção de sondagens e análises de sondagens serviu para zero”. De tal modo que se “gerou uma narrativa atraente e poderosa que era, afinal, o oposto do que estava a acontecer”.
A caricatura de tudo isto vêmo-la, todos os dias, em televisões de todos os países, com jornalistas a repetir frases ou números expostos em gigantescos ecrãs, como se ter um ecrã de grafismo “modernaço” fosse um oráculo indesmentível. Em boa verdade, muitas vezes, a utilização de tal aparato é sintoma de uma visceral incapacidade para olhar o mundo à nossa volta. O problema não está, nunca esteve, num mero “pró” ou “contra” Donald Trump, mas sim na existência desse olhar — e na exigência ética que o fundamenta.