Digamos, para simplificar, que a subtileza não é o forte de Mel Gibson... — esta nota foi publicada no Diário de Notícias (14 Novembro).
Enquanto cineasta, Mel Gibson não é exactamente alguém de quem possamos esperar uma apoteose de subtileza. Que o seu muito esforçado e bem intencionado Braveheart (1995) tenha ganho o Oscar de melhor filme no ano em que Casino, de Martin Scorsese, era um dos potenciais candidatos, eis uma ironia amarga com que a cinefilia convive com inevitável desencanto...
Desta vez, com O Herói de Hacksaw Ridge, ele tem mesmo a seu favor o fascínio de uma espantosa personagem: Desmond Doss (Andrew Garfield), objector de consciência do exército americano que, na Segunda Guerra Mundial, nos combates em Okinawa, enquanto elemento das equipas médicas, deu mostras de excepcional dedicação e coragem. Infelizmente, para Gibson, Doss não passa de uma espécie de marioneta angelical que se “destaca” de uma representação obscena da violência das explosões e da decomposição dos corpos (nada a ver com o sentido dramatúrgico de O Resgate do Soldado Ryan, de Steven Spielberg, lançado em 1998). Além do mais, as cenas de infância, de tão demonstrativas e “psicológicas”, não superam um involuntário ridículo.