segunda-feira, novembro 07, 2016

O chamamento do monstro

Inspirando-se no livro de Patrick Ness, J. A. Bayona recupera os valores primitivos da fábula — esta nota foi publicada no Diário de Notícias (3 Novembro).

O menos que se pode dizer do espanhol J. A. Bayona (nascido em Barcelona, 1975) é que tem tido um trajecto pleno de contrastes. Tornou-se conhecido através de um filme de terror, O Orfanato (2007), tendo dirigido O Impossível (2012), ambiciosa produção internacional sobre os efeitos do tsunami que devastou a Tailândia em 2004. Entretanto, chegou ao coração da indústria de Hollywood, já que tem entre mãos o projecto de uma nova sequela de Parque Jurássico (para 2018).
Com Sete Minutos Depois da Meia-Noite, adapta o “best-seller” do americano Patrick Ness, centrado na figura de um rapazinho que é convocado por um monstro (o título original é A Monster Calls) para lidar com a frágil saúde da sua mãe. Especialmente interessante é a concepção da figura do monstro (com voz de Liam Neeson), transfigurando-se a partir de uma árvore que ocupa um lugar central na simbologia de toda a história. Acima de tudo, este é um filme que afirma a possibilidade de regresso a um tom primitivo de fábula que resista à mera ostentação da parafernália tecnológica.