Acontecimento maior na história recente do cinema português, Cartas da Guerra, de Ivo M. Ferreira, baseado em D'este Viver Aqui Neste Papel Descripto/Cartas da Guerra, de António Lobo Antunes, tem estreia marcada para 1 de Setembro.
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Não podemos (sobretudo, não devemos) favorecer o miserabilismo niilista segundo o qual "nada" sabemos sobre a Guerra Colonial — incluindo o cinema, são muitos os domínios de expressão e investigação em que, nestes últimos 40 anos, se evocou/mostrou/analisou um trauma central na história moderna portuguesa. O certo é que o seu efeito traumático, precisamente, persiste: e se tudo o que fazemos ou dizemos for pouco e escasso para conter tamanha dor?
Cartas da Guerra é também um filme para lidar com esse trauma, antes do mais recusando a ilusória transparência dos testemunhos mais ou menos televisivos que confundem a evocação de "factos" com a densidade pulsional da história — aqui, a perturbação dos desejos que não cabem em palavras (e este é um filme de palavras) dá a ver, paradoxalmente, um caminho factual. Nesta perspectiva, este é também um objecto para nos ajudar a pensar o que é, ou pode ser, um realismo cinematográfico português. Tarefa imensa, filme admirável.
Cartas da Guerra é também um filme para lidar com esse trauma, antes do mais recusando a ilusória transparência dos testemunhos mais ou menos televisivos que confundem a evocação de "factos" com a densidade pulsional da história — aqui, a perturbação dos desejos que não cabem em palavras (e este é um filme de palavras) dá a ver, paradoxalmente, um caminho factual. Nesta perspectiva, este é também um objecto para nos ajudar a pensar o que é, ou pode ser, um realismo cinematográfico português. Tarefa imensa, filme admirável.