quarta-feira, abril 13, 2016

Uma carta de Jorge Silva Melo

"Uma deambulação por meio século, sim, uma carta talvez. Viagens pela minha vida, podia chamar-lhe eu, que tanto gosto de Garrett. Um travelling como ele gostaria, uma história solta, memórias, projectos, encontros" — é assim que Jorge Silva Melo começa por apresentar o seu belíssimo filme Ainda Não Acabámos [que depois de uma primeira apresentação, em Fevereiro, no São Luiz, chega agora ao cinema Ideal].
Documentário sobre uma trajectória pessoal e artística? Sem dúvida. Mas também documento sobre o ser português vivido como ficção assombrada e assombrosa que, melhor ou pior, nos faz desejar e cair, recomeçar e redescobrir o desejo.
Tudo isso acontece através da evocação formadora do cinema e da celebração carnal do teatro. No limite, este é um filme sobre a verdade exposta no actor, através do actor, a partir da frágil e esplendorosa comunidade dos actores. Como quem convoca o espectador para se rever no seu próprio espelho e também nos espelhos que cinema e teatro lhe apresentam. Afinal, o subtítulo é Como se fosse uma carta — vale a pena abri-la, lê-la, pensá-la e pensar com ela.