domingo, abril 17, 2016

Para onde vai a televisão?

Sinais da actualidade: a reality TV não pára de multiplicar os seus horrores, a televisão cola-se ao imaginário cinematográfico, as vedetas são recicladas — esta crónica foi publicada no Diário de Notícias (15 Abril).

1. A pergunta clássica que este título relança corre o risco de se enredar no misto de naturalismo e indiferença com que, todos os dias, quase todos nós — incluindo a maioria dos distintos membros da classe política — encaramos o lugar social da televisão. Como se não estivesse aí um elo determinante de toda a nossa educação. Agora, até temos uma variante da reality TV (Love on Top, TVI) que promete grandes e festivas celebrações em torno da actividade sexual dos seus protagonistas... É o horror televisivo na sua máxima arrogância e anti-humanismo, mas não vejo, não ouço o mais discreto reparo dos que integram a nossa arquitectura política.

2. Que algo está a mudar na paisagem global da televisão, ilustra-o de forma desconcertante, involuntariamente irónica, uma notícia destes dias. Assim, uma das séries mais vendidas em todo o mundo, A Guerra dos Tronos (SyFy), teve uma cerimónia de lançamento da sua sexta temporada em tudo idêntica às que conhecemos do mundo dos filmes: passadeira vermelha, desfile das vedetas, fotógrafos ansiosos, fãs em histeria... Para que tudo isso correspondesse a uma genuína ocupação dos terrenos tradicionais do cinema, o evento teve lugar em Los Angeles! O que permitiu mesmo ao jornalista de The Hollywood Reporter (10 Abril) ironizar sobre o facto de, depois de alguns dias gelados, os “ventos do Inverno” terem sido acolhidos pelo “caloroso azul” da Califórnia...

3. Jon Stewart, protagonista de épocas gloriosas de The Daily Show, está de volta à televisão, tendo assinado um contrato de quatro anos com a HBO para coordenar a produção de conteúdos “de pequeno formato”, visando em especial as plataformas digitais daquele canal. Será esta a moral da história: as figuras clássicas da televisão são recicladas em ponto pequeno e exiladas na indiferença global dos territórios virtuais?