domingo, abril 17, 2016

Cristina Ferreira e a imprensa cor-de-rosa



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Considerando eu que, no interior da classe jornalística portuguesa, há um imenso défice de reflexão e pensamento sobre a violência anti-humanista da referida imprensa cor-de-rosa, não posso deixar de experimentar uma bizarra sensação de surpresa face às palavras de Cristina Ferreira. De facto, seria interessante que ela própria acompanhasse tão corajosa declaração (e também tão rara, no nosso contexto) de uma clara demarcação dos vectores ideológicos dessa mesma imprensa. Quais? Cito três, a meu ver determinantes:
1 - a promoção de uma noção de identidade feminina que se confunde com a colagem a parâmetros de "moda".
2 - a mercantilização dessa noção através de toda uma elaborada estrutura de vendas (cuja legitimidade, naturalmente, não está em causa).
3 - a redução da existência pessoal a uma "caderno de encargos" de ligeireza, redundância e futilidade que se exprime através de mediocridades "literárias" deste teor: "Acho que o sentimento é geral. Quando chega a sexta é dia de festa. Mais até do que o Sábado. Gosto mesmo deste dia. Dizem que as bruxas se recolhem e não há espaço para maldades. Porque é tempo de libertação. Respira-se fundo depois da intensidade das horas ocupadas. Para quem acorda às 6h, o não ter despertador é sinónimo de fogo de artifício. Também não acordo muito mais tarde que o registo do corpo manda levantar. Mas é o estar no quente dos lençóis, o demorar no pequeno almoço. Às vezes voltar a dormir no sofá. Para mim a festa não implica movimento. Olhar o céu, o mar, pensar. Descansar. Isso sim é uma festa."