Algo nos impele a aplicar aquele velho chavão sobre a iconografia do nosso mundo. A saber: eis duas imagens que falam por si...
Mas é apenas um chavão. Ou seja: pode reconfortar-nos na ilusão de uma linguagem comum quando, na verdade, as imagens, quaisquer imagens, acabam sempre por dividir as nossas falas.
Pedro Santana Lopes e Marcelo Rebelo de Sousa nas capas das revistas Cristina e GQ, respectivamente, são a expressão de um novo look da política portuguesa que, de facto, se tornou dominante.
Pedro Santana Lopes e Marcelo Rebelo de Sousa nas capas das revistas Cristina e GQ, respectivamente, são a expressão de um novo look da política portuguesa que, de facto, se tornou dominante.
Que aconteceu, então? Uma deslocação metódica, porventura distraída no início, mas cada vez mais sistemática e assumida, do teatro político para novos palcos mediáticos. Que palcos? Pois bem, os que decorrem de valores de muitos talk-shows populistas (caso óbvio de Cristina) ou são a expressão de um "liberalismo" masculino mais ou menos consumista (a GQ define-se mesmo como revista "para homens a sério").
Os resultados são vistosos. Literalmente: arrastam uma visão do mundo. Que visão? Aquela em que a prática da pose passou a ocupar o lugar do próprio discurso político, tendencialmente remetido para a condição instrumental de apêndice ideológico (?) mais ou menos dispensável.
E não deixa de ser irónico que, nos seus idênticos sobretudos escuros, Pedro Santana Lopes e Marcelo Rebelo de Sousa protagonizem uma espécie de reivindicação nostálgica de um look típico dos anos 50, em particular eternizado nas fotografias de James Dean em Times Square, por Dennis Stock — a nostalgia transformada em kitsch é, muito provavelmente, a derradeira utopia dos políticos que temos.
DENNIS STOCK James Dean em Times Square 1955 |