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PAUL KLEE Paisagem 1922 |
Discute-se o futuro governo de Portugal sem que a classe política dê o mais pequeno sinal de enfrentar uma questão básica. A saber: fazer política é sempre um acto cultural.
Há poucos meses, o facto de António Costa ter declarado a sua intenção de (voltar a) atribuir um ministério à área da Cultura suscitou uma discreta agitação — mas foi sol de pouca dura. Em boa verdade, transversalmente (o que não exclui eventuais excepções individuais), a classe política não tem qualquer visão cultural.
Entendamo-nos: ter uma visão cultural não é o mesmo que exaltar a figura A ou B, viva ou morta, e as suas proezas (ditas) culturais.
Ter uma visão cultural significa sustentar uma visão da sociedade portuguesa — e do mundo, hélas! — que envolva valores que estejam para além da presença mais ou menos gritada na antologia diária de soundbytes televisivos.
Onde está o político que nos diga alguma coisa sobre o modo como vivemos a difícil arte de viver? Onde está o deputado que ponha na agenda (do parlamento e da sociedade) a reflexão sobre a informação que temos, a televisão que vemos, as relações sociais que, com ou sem redes, nos fazem dialogar com o outro?
Onde está uma visão política que se defina, não de forma instrumental, mas visceralmente, como um programa cultural?
Onde está uma visão política que se defina, não de forma instrumental, mas visceralmente, como um programa cultural?