A mensagem divulgada ontem por Cristiano Ronaldo é um exemplo modelar do modo ambíguo e perverso como, hoje em dia, funcionam os mecanismos da celebridade: por um lado, ele expõe-se num certo grau de intimidade (está de férias, deitado numa cama, refere que o filho anda ali perto a brincar...); por outro lado, a mensagem inclui um protesto contra os meios de comunicação que, todos os dias, inventam histórias sobre a sua vida privada (pedindo para que o deixem em paz).
É óbvio que ele tem razão em chamar a atenção para os desmandos cometidos pelo jornalismo que apenas vive dessa pornografia existencial que reduz qualquer ser humano, "famoso" ou não, a uma estúpida marioneta cuja identidade se mede em função de alegadas performances sexuais... Ao mesmo tempo, a inscrição num determinado espaço virtual (o video surgiu na página de Facebook do próprio Ronaldo) tende a legitimar a lógica e os valores desse conceito, cultural & comercial, que reduziu o "social" a uma mera proliferação de links — se Ronaldo se demarcasse dos valores dominantes dessas "redes", eis o que daria à sua mensagem uma genuína dimensão política.