domingo, abril 12, 2015

Laurent Lafitte, actor francês (2/2)

Marina Foïs e Laurent Lafitte
Laurent Lafitte é um actor do cinema francês que mantém uma relação forte com o teatro; como protagonista de Tal Pai, Tal Mãe, encontrou um registo de comédia que não é estranho a um certo realismo social — este texto foi publicado no Diário de Notícias (6 Abril).


Cinematograficamente, vivemos numa paisagem informativa dominada pela ideia (?) segundo a qual o mercado só se agita quando estreia algum blockbuster de Hollywood que envolva muitos milhões e explosões. O primeiro resultado prático de tal regra é o desconhecimento da fascinante variedade do actual cinema americano. O segundo envolve algo de tristemente caricato: numa Europa tão dada a exaltações políticas da sua unidade, o cinema europeu é muitas vezes secundarizado (para não dizer ignorado) no espaço mediático.
Laurent Lafitte, talentoso actor francês, pode servir de sintoma das muitas coisas que, europeus por compulsão, não por convicção, tão mal conhecemos. Desde logo, uma tradição de representação que se cruza sempre com o teatro e que, para nos ficarmos por escassos exemplos, é indissociável da trajectória de nomes como Jean Gabin, Jean-Louis Trintignant ou Fanny Ardant. Depois, uma pluralidade de estilos e géneros que faz com que todos os clichés — desde o cinema francês a “imitar” constantemente a herança da Nova Vaga, até ao cinema francês “especializado” em Astérix — revelem o seu carácter inócuo.
A simpática comédia que é Tal Pai, Tal Mãe não será a via mais radical para pôr à prova todos os recursos de Lafitte. Talvez. Ainda assim, estamos perante um filme também ele empenhado em respeitar uma tradição que, através do humor, não perca o contacto com as convulsões do nosso presente (em particular o universo das relações familiares). Como diz o próprio Lafitte, fazer comédia é algo mais do que acumular “gags” — a comédia decorre de uma imensa disponibilidade para olhar o mundo à nossa volta. Afinal de contas, estamos a falar de uma história que envolve nomes como Fernandel, Louis de Funès, Bourvil, Michel Serrault e Jacques Tati.