terça-feira, janeiro 06, 2015

Três memórias de Joe Cocker (2)

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Mesmo sem menosprezar tudo o que Joe Cocker faria ao longo de mais de quatro décadas, talvez seja inevitável reconhecer que foi muito cedo, mais precisamente em 1970 (um ano depois do seu primeiro álbum, With a Little Help from My Friends), que protagonizou o momento mais emblemático de toda a sua carreira. De facto, o álbum Mad Dogs & Englishmen (cujo título é roubado a uma canção composta por Noël Coward em 1931) pode sintetizar os seus dois fundamentais talentos de entertainer: primeiro, a invulgar capacidade de reinventar canções criadas por outros; depois, uma energia vocacionada, por excelência, para o espaço específico do palco.
Gravado em Nova Iorque, no Fillmore East, a 27/28 Março de 1970, contando com a ajuda preciosa de Leon Russell, uma dessas admiráveis "segundas" figuras da história da música popular (aqui cantando, tocando piano e guitarra, além de partilhar a produção com Denny Cordell), este é um caso exemplar do ao vivo, não como transcrição do que quer que seja, antes como acontecimento puro do rock. No alinhamento surgem, entre outros, temas dos Rolling Stones (Honky Tonk Women), Leonard Cohen (Bird on a Wire) e Otis Redding (I've Been Loving You Too Long).
Alguns meses mais tarde, a 31 de Outubro de 1970, Pierre Adidge filmaria Cocker e a sua banda num concerto no Metropol de Berlim: é desse registo esta interpretação de With a Little Help from My Friends, obviamente lembrando a de Woodstock, ocorrida a 17 de Agosto de 1969 — Rita Coolidge está no coro e Russell usa o seu emblemático chapéu alto; a montagem, tirando partido da fragmentação do ecrã, remete, precisamente, para as experiências do filme Woodstock (1970), de Michael Wadleigh.