'50 anos de solidão'
(30 de Setembro de 2005)
Entre as frases pessoais, coladas ao mito de James Dean, encontra-se esta: "Sonha como se vivesses para sempre. Vive como se morresses hoje." Na sua vida breve, Dean acabou por ilustrar de forma paradoxalmente trágica a sua própria utopia. De facto, ele foi um dos que viveram depressa e morreram cedo: nasceu a 8 de Fevereiro de 1931, em Marion (Indiana); morreu na zona de Cholame (Califórnia), ao volante do seu Porsche Spyder, a 30 de Setembro de 1955 — faz hoje 50 anos.
Que resta, então, para além do estereótipo mais ou menos kitsch de "eterno rebelde"? Não apenas uma nostalgia avassaladora, mas a herança simbólica de um verdadeira revolução figurativa e psicológica: em tempos de grandes convulsões artísticas (a reconversão da narrativa clássica, o Actors Studio, Marlon Brando, etc.), Dean trouxe para o cinema americano um novo modelo de adolescente. Já não um apêndice discreto do espaço familiar, mas uma personagem viva capaz de reflectir e interrogar os impasses desse mesmo espaço num mundo cada vez mais convulsivo e mercantilizado. E, para que tal acontecesse, bastaram três filmes: A Leste do Paraíso, de Elia Kazan, Fúria de Viver, de Nicholas Ray, e O Gigante, de George Stevens (os dois últimos estreados já depois do seu falecimento).
Reencontramo-lo, assim, como personagem de uma solidão primordial: a que nasce da distância entre o seu lugar no colectivo social e o desejo de um outro modo de sentir e ser fiel à sua verdade mais recôndita. Daí a sua universalidade, daí a infinita comoção dos seus gestos.