sexta-feira, janeiro 02, 2015

Bergman x 17 (12)

RITUAL (1969)
Grande acontecimento em DVD, depois da exibição em Lisboa e Porto (e mais algumas cidades): a edição de 17 filmes de Ingmar Bergman (1918-2007), a maior parte em cópias restauradas — razões de sobra para rever algumas imagens emblemáticas da filmografia do mestre sueco.

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Até que ponto o cineasta Ingmar Bergman foi um homem de teatro que encarou o cinema como um prolongamento formal dos artifícios do palco? Ou de que modo o palco foi, para ele, um espaço tendencialmente cinematográfico? As ambivalências inerentes a estas interrogações reforçam-se — e, num certo sentido, elaboram a sua própria irrisão — quando descobrimos, três anos depois de Persona, um filme como Ritual. O ponto de partida da sua intriga (um juiz que interroga os membros de uma troupe teatral acusada de obscenidade) implica, através da perversa démarche bergmaniana, uma interrogação dos fundamentos da própria ordem moral que sustenta o conceito de "boa" representação — nesta perspectiva, as imagens a preto e branco, com assinatura de Sven Nykvist, definem as regras de uma iconografia que não reconhece fronteiras estanques a qualquer forma de encenação [veja-se o rosto teatral, hélas!, de Ingrid Thulin]. Aliás, a interrogação dos códigos de representação deve ser entendida também como problemática de produção, uma vez que este é um dos primeiros trabalhos de Bergman para televisão, em tudo e por tudo devedor dos temas e formas do seu universo cinematográfico.