quarta-feira, janeiro 07, 2015

Hoje somos todos 'Charlie Hebdo'


N. G.: A violência sem argumentos da intolerância de quem teme a opinião diferente inscreveu o dia de hoje na História (da imprensa e do mundo). O Charlie Hebdo somos todos nós, os que acreditam na palavra, nas ideias, no debate, que aceitamos o outro quando pensa igual, diferente ou ao contrário. O Charlie Hebdo somos também todos nós que sabemos que não podemos ceder pelo medo. Porque o medo, aqui, não é a resposta. Falo em concreto do medo como motor de uma eventual busca de respostas (ou de uma ideia de segurança) no outro extremo. Não é na radicalização das atitudes que se responde a quem é radical. Não é o olho por olho, dente por dente. Não é também, claro, o virar a cara para levar mais um estalo. É preciso saber responder. Mas com inteligência.

J. L.: Responder com inteligência é, por certo, o mais urgente. E também o mais difícil. O imediatismo com que as imagens de Paris se começam a ver — e a repetir, repetir, repetir... — gera um misto de revolta e entorpecimento, como se a tragédia surgisse ameaçada pela rotina novelesca dos dias televisivos. Porque, no limite mais amargo de tudo isto, deparamos com um mundo (a que chamamos) globalizado, mas em que, apesar da globalização (ou precisamente através dela), a singularidade do outro é um dado cada vez mais rarefeito. Entre os desafios políticos, morais e educacionais colocados por agressões terroristas como esta, está, justamente, a necessidade de criar  e consolidar laços que não se esgotem no automatismo de um link de um concreto aqui para um algures mais ou menos abstracto. Dito de outro modo: as acções inerentes à nossa indignação não podem deixar de ter a ver com os lugares vivos do nosso dia a dia — este é o mapa das iniciativas de homenagem às vítimas do atentado de Paris, preparado pelo jornal Le Monde.