A Máquina do Tempo (1960) |
Rod Taylor faleceu no dia 7 de Janeiro, contava 84 anos — este obituário foi publicado no Diário de Notícias (10 Janeiro), com o título 'Morreu o actor que Hitchcock dirigiu em “Os Pássaros”'.
Em 2009, numa cena do seu filme de guerra Sacanas sem Lei, Quentin Tarantino incluía a personagem de Winston Churchill. Era uma presença breve, mas obviamente carregada de simbolismo. Até mesmo na escolha do actor: fazendo gala do seu espírito cinéfilo, Tarantino convidou o australiano Rod Taylor para interpretar Churchill, homenageando assim o protagonista masculino de Os Pássaros (1963), um dos exemplos mais sofisticados do suspense segundo Alfred Hitchcock. Por cruel ironia, Sacanas sem Lei seria também o seu derradeiro trabalho cinematográfico — Taylor faleceu em Los Angeles, na quarta-feira, dia 7, quatro dias antes de completar 85 anos.
Nascido em Sydney, onde estudou teatro, ganhou experiência nos palcos e também em programas de rádio, nomeadamente na série dramática Blue Hills. Foi, precisamente, um prémio radiofónico (melhor actor de 1954) que o levou a Los Angeles, rapidamente encontrando lugar em diversas produções televisivas e cinematográficas. Foi-se impondo como uma presença carismática de Hollywood, ainda que apenas em papéis secundários. Surgiu, por exemplo, em The Catered Affair (1956), drama dirigido por Richard Brooks com Bette Davis no papel central, e O Gigante (1956), o filme final de James Dean, realizado por George Stevens.
Depois de várias participações em séries televisivas, incluindo Quinta Dimensão e General Electric Theater, ascendeu à condição de estrela graças ao filme que lhe deu o seu primeiro papel de protagonista: A Máquina do Tempo (1960), uma adaptação do clássico de H. G. Wells com assinatura de George Pal, lendário criador de aventuras de ficção científica (o filme foi, aliás, consagrado com o Oscar de melhores efeitos especiais).
Rodagem de Os Pássaros (1963): Hitchcock dirige Rod Taylor (no chão: Suzanne Pleshette) |
A década de 60 corresponde ao período de ouro da carreira de Taylor. Desde logo na televisão, como protagonista da série policial Hong Kong (1960-61), em que interpretava um jornalista americano com vocação de detective. Depois de Os Pássaros, contracenou com alguns dos nomes mais populares da produção da época, incluindo o par Elizabeth Taylor/Richard Burton em Hotel Internacional (Anthony Asquith, 1963), Julie Christie em O Jovem Cassidy (Jack Cardiff, 1965) e Doris Day em Espia em Calcinhas de Renda (Frank Tashlin, 1966).
Como outras figuras emblemáticas desse período, face às profundas transformações temáticas e financeiras de Hollywood, Taylor foi transferindo a sua actividade para o espaço televisivo (tendo surgido nos anos 70/80 em séries como The Oregon Trail ou Falcon Crest). Dir-se-ia que a diversidade de registos em que participou, em vez de consolidar a sua carreira, acabou por enfraquecer a sua imagem junto do grande público. Sintomaticamente, participou num filme exemplar desse período de transformações radicais: Zabriskie Point (1970), obra-prima made in USA do italiano Michelangelo Antonioni, entre nós lançada com o título Deserto de Almas.
>>> Obituário no New York Times.
[cartaz francês] |