segunda-feira, dezembro 08, 2014

Madonna — novas confissões

Faz sentido que, para um novo capítulo confessional, Madonna tenha convocado um entertainer que é também um ilusionista — ao dialogar com David Blaine, tudo acontece, afinal, entre dois oficiais do mesmo ofício.
Sabendo que qualquer pose pode ser tanto efeito da vontade mais secreta como do puro artifício de mise en scène, Blaine começa mesmo por lhe anunciar que trouxe uma colecção de cartões com perguntas... como plano B. Ambos jogam o jogo do acaso, tratando-se de saber, por exemplo, como seria viver 44 dias em isolamento... Madonna acolhe a hipótese com curiosidade, reconhecendo-se disponível para tal experiência. Porquê? Porque carente de silêncio. Blaine pergunta-lhe se ela cantaria enquanto estivesse sozinha, ao que ela responde que sim, talvez sussurrando uma canção que ensinou aos filhos e que a mãe lhe cantava quando tinha 4 anos (a mãe de Madonna faleceu quando ela tinha 6) — assim:

I know a place where no one ever goes
There's peace and quiet, beauty and repose
It's hidden in a valley, behind a mountain stream
and lying there beside the stream I find that I can dream
Only of things, of beauty to the eye, snowflakes and mountains towering in the sky
Now I know that God made this world for me.

Digamos que, 16 anos depois, percebemos melhor de onde veio o sublime Mer Girl. Além do mais, em tempos de redução da privacidade à pornografia tele-mediática, podemos reconhecer que ainda há quem saiba dar valor a uma conversa realmente íntima, partilhável com os outros — está na edição de Dez. 2014/Jan. 2015 da revista Interview, devidamente acompanhada por um portfolio de muitos assombramentos, mais uma obra de excepção a acrescentar à iconografia da Material Girl, com assinatura dos admiráveis Mert Alas & Marcus Piggott.