segunda-feira, novembro 03, 2014

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The Flaming Lips

"With a Little Help from My Fwends"
Bella Union / Edel
4 / 5

Com uma carreira que remonta aos anos 80, os Flaming Lips conquistaram um patamar de atenção maior com o impacte global (em esferas indie, note-se) dos álbums The Soft Bulletin (1999) e Yoshimi Vs The Pink Robots (2002) onde todo um conjunto de ideias ensaiadas e desenvolvidas em discos anteriores ganhava forma em coleções de canções mais arrumadas, sob uma nitidez na escrita, instrumentação e produção que, sem apagar episódios anteriores – como o mítico Zaireeka (1997), transportou a música dos Flaming Lips a outras dimensões (e públicos). Incansáveis experimentadores, pouco dados ao jogo da cedência, não se fixaram nas formas ali atingidas, mostrando os álbuns seguintes novos sinais de novas demandas. Infelizmente, sem nunca voltar a dar-nos resultados tão marcantes como os que os álbuns de 1999 e 2002 nos haviam mostrado. Houve episódios pontuais interessantes, tiros ao lado e sinais de caminhos novos a trilhar... Um deles conduziu-os ao disco que agora nos mostram e que representa o seu melhor momento desde Yoshimi... Podemos encontrar entre The Flaming Lips and Stardeath and White Dwarfs with Henry Rollins and Peaches Doing The Dark Side of the Moon que em 2009 reinventava o álbum clássico dos Pink Floyd e o disco novamente feito com “amigos” The Flaming Lips and Heady Fwends, de 2012, as bases das ideias que agora os conduzem a esta abordagem, de fio a pavio, às canções da totalidade de Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, disco de 1967 dos Beatles. Tal como o tinham feito com os Pink Floyd, entram agora pelas canções dos ‘fab four’ adentro sem as tomar como santinhos de altar. Em With a Little Help from My Fwends aceitam a sua estrutura, letra e melodia, acolhem ainda (e muito naturalmente) o clima de desafio que o psicadelismo então também tinha marcado a própria concepção do disco. Mas juntam ideias, sonoridades, cenografam de modos diferentes. E o mais espantoso é que, mesmo fazendo notar sempre a presença de quem transforma, a alma maior das canções dos Beatles acaba por estar sempre em cena. Com nomes algo surpreendentes como os de Moby, Miley Cyrus, a dupla Tegan & Sara e as presenças mais “naturais” dos Foxygen ou de Ben Goldwasser (dos MGMT), celebra-se um ícone pela sua assimilação e transformação. Afinal é isso que deve fazer um disco que tomamos como referência.