Mas há encontros que servem como momentos de charneira em tantas carreiras e situações. E, quando em 2010, Steve Reich viu Johnny Greenwood a atuar num festival em Cracóvia, interpretando o seu Electric Counterpoint, a ligação entre ambos estabeleceu-se, criando no compositor norte-americano o desejo de conhecer a música dos Radiohead, banda na qual Greenwood é guitarrista. Reich conhecia Greenwood pelo seu trabalho para cinema, imaginando-o um herdeiro de Messiaen. A obra dos Radiohead chegou assim como uma descoberta. E dessa experiência nasceu o estímulo que mais tarde, sob encomenda do coletivo Alarm Will Sound, gerou um trabalho de “rescrita” de duas canções do grupo inglês: Everything in it’s Right Place, do álbum de 2000 Kid A e Jigsaw Falling Into Place, de In Rainbows, de 2007. Radio Rewrite é assim um exercício de descoberta de uma voz com uma personalidade clara (e uma sonoridade claramente ligada a um certo conjunto de instrumentos, que aqui convoca) sobre os caminhos possíveis de encontrar através de duas canções de berço pop/rock. Ecos das canções, sobretudo elementos das linhas melódicas renascem assim diluídas num corpo novo, surpreendente, com aquele valor de soma de experiências que podemos imaginar segundo a velha máxima que diz que quem conta acrescenta um ponto. E mesmo sendo aqui e ali claras as raízes desta “rescrita”, no fim estamos claramente em território Reichiano.
O álbum agora editado, no qual os Alarm Will Sound registam a estreia em disco de Radio Rewrite, junta ainda uma interpretação de Johnny Greenwood de Electric Counterpoint e uma de Piano Counterpoint por Vicky Shaw, do coletivo Bang on a Can All Stars. O ciclo “counterpoint” surgiu sob uma ideia de juntar um solista a faixas pré-gravadas, multiplicando assim a sua presenta no corpo musical da peça. Electric Counterpoint teve na origem uma leitura por Pat Metheney e teve estreia em disco em 1989. Já Piano Counterpoint não é senão uma transcrição de Six Pianos, apresentando pré-gravadas quatro das partituras para piano, juntando a quinta e sexta numa só, que se entrega assim a um virtuoso do piano. Convenhamos que em conjunto o disco nos dá interessantes olhares sobre a música de Reich e, entre Radio Rewrite e Electric Counterpoint fixa uma ponte para com a música e os músicos dos Radiohead. Será ponte a continuara explorar?