domingo, outubro 26, 2014

O deserto ideológico

ALAIN DUHAMEL
(foto: Wikipédia)
O artigo chama-se 'O deserto ideológico francês'. Mas não é preciso muita imaginação, nem sequer qualquer cedência ao cinismo dos tempos, para reconhecer que os dramas que Alain Duhamel analisa na sua crónica de 22 de Outubro no jornal Libération, ainda que enraizados na dinâmica histórica e política da França, contaminam também, porventura de modo ainda mais extremado, a paisagem do (não) pensamento político português. Além do mais, Duhamel lembra que, muito mais importante do que saber como é que a política se "exprime" no espaço televisivo, importa questionar aquilo que a televisão está a fazer à política. Citação:

>>> Esta é a era dos pragmáticos, dos homens de transição ou dos oportunistas. Há várias causas para isso: o debate ideológico exige verdadeiros livros, enquanto o debate político tem lugar na televisão onde as posturas contam mais que os argumentos, as emoções mais que as argumentações e o carisma — a "presença" — muito mais que a inteligência ou a cultura. A televisão da informação em contínuo histeriza este movimento. Além do mais, depois de quarenta anos de crises sucessivas, a política deixou de atrair os melhores. A elite do poder virou-se para o sector privado, enquanto os homens de aparelho ocupam as primeiras linhas do espaço político. Por cima de tudo isso, o conjunto do mundo político instalou-se na denegação ideológica: é essa a chave do actual cemitério das ideias.