Woody Allen continua a filmar na Europa, desta vez no sul da França, na Côte d'Azur, e em registo clássico de comédia romântica — este texto foi publicado no Diário de Notícias (3 Setembro), com o título 'Woody Allen redescobre magia da Riviera francesa'.
Desde Match Point (2005), Woody Allen tem sido um visitante regular da nossa Europa. Procurando superar algumas dificuldades na montagem financeira de projectos nos EUA, o cineasta de títulos clássicos como Annie Hall (1977) Manhattan (1979) e Ana e as suas Irmãs (1986), tem utilizado cenários europeus para encenar as suas histórias mais ou menos românticas, quase sempre sarcásticas. Assim volta a acontecer em Magia ao Luar, filme de redescoberta da magia da Riviera francesa.
A palavra “magia” envolve, aqui, uma duplicidade essencial. Por um lado, trata-se de enaltecer a beleza paisagística da Côte d’Azur, fotografada com o requinte próprio de um veterano como Darius Khondji — ele já tinha sido o director de fotografia de dois outros títulos do realizador, Meia-Noite em Paris (2011) e Para Roma com Amor (2012), tendo na sua filmografia trabalhos notáveis em filmes como Seven (David Fincher, 1995) Evita (Alan Parker, 1996), que lhe valeu uma nomeação para os Oscars, ou A Praia (Danny Boyle, 2000). Por outro lado, a dimensão mágica decorre também da possibilidade de contactar com as vozes do além...
Tudo se passa no clima de euforia e hedonismo que marcou um determinado período entre os dois conflitos mundiais (a acção situa-se no ano de 1928), fazendo lembrar algumas componentes do universo de F. Scott Fitzgerald. No sul de França, no seio da classe mais abastada, a jovem americana Sophie tornou-se uma figura muito popular, protagonizando sessões de espiritismo em que convoca as almas daqueles que já faleceram. Até que lhe aparece Stanley, um ilusionista britânico (que, em palco, se apresenta como o chinês Wei Ling Soo) empenhado em desmascará-la.
Fiel aos ziguezagues das mais tradicionais comédias românticas — Magia ao Luar é um filme nostálgico da idade de ouro de Hollywood —, Woody Allen encena tudo isso como um baile de máscaras que, em última análise, nos confronta sempre com a interrogação fulcral: como é que o amor nasce, ou pode nascer, na relação de dois seres que, aparentemente, tudo separa? O humor é também, por isso, um instrumento que conduz ao filme à dimensão de irónico conto moral.
Como sempre, Woody Allen continua a integrar no seu universo alguns dos mais populares actores e actrizes dos dois lados do Atlântico. Desta vez, no par central, Magia ao Luar apresenta duas estreias de peso: Sophie é interpretada por Emma Stone, actriz que protagonizou uma fulgurante ascensão, desde a sua participação em As Serviçais (Tate Taylor, 2011); no papel de Stanley, surge Colin Firth, “oscarizado” por O Discurso do Rei (Tom Hooper, 2010), por certo o mais popular actor inglês do momento. Entretanto, Emma Stone está de novo a trabalhar sob a direcção de Woddy Allen, contracenando com Joaquin Phoenix num filme ainda sem título, agendado para 2015.