'Sou Todo Ouvidos' (1931)
Nova Iorque já deve perdido a conta da quantidade de vezes que foi falada entre histórias reais e narrativas de ficção. Porém, poucos a olharam como o fez Joseph Mitchell (1908-1996) em Sou Todo Ouvidos. Como aqui já em tempos referi, estes são pequenos textos, que nos levam a caminhar por entre as outras faces da cidade, os bares menos falados, os aldrabões, os palcos secundários, as ruas menos iluminadas onde, acima de tudo, escutou histórias.
Jornalista, com parte significativa do seu trabalho publicado na New Yorker, recorda aqui cenários da cidade que descobriu por alturas do crash de 1929 e que viveu e descreveu em textos que publicou nos anos seguintes, alguns deles aqui reunidos. A sua é uma escrita rica em figuras, histórias e imagens, mas sob uma contenção que sabe, com pouco, dizer muito. Porque, dizia ele mesmo, ““não pode haver mais praga para um jornal que um jornalista que se põe a tentar escrever literatura”. Como tem razão!
Autor de O Segredo de Joe Gould, Joseph Mitchell trabalhou, em início de carreira, nos anos 30, como jornalista para diversos jornais nova-iorquinos. Natural de Iona (na Carolina do Norte), tinha chegado a Manhattan em 1929 com 21 anos, já sob um futuro universitário fracassado pela absoluta inaptidão com a matemática. Salvo os meses em que atravessou o mar, até Leninegrado (hoje São Petesburgo), a bordo de um navio, regressando logo depois, viveu e descobriu Nova Iorque em busca de histórias e suas personagens, que este livro assim retrata. Apesar de, no final do volume, se registarem encontros com George Bernard Shaw, Gene Krupa e algumas mais figuras públicas - a quem Mitchell chamava “moedores de ouvidos” – Sou Todo Ouvidos vive essencialmente de histórias e retratos de anónimos com “uma intimidade velha de anos com a pobreza”.
Outros destaques da sua obra:
McSorley's Wonderful Saloon (1942)
O Fundo da Baía (1959)
O Segredo de Joe Gould (1960)