Warp
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Conta-se que é um regresso após um álbum que, editado em 2001, deixou então o nome Aphex Twin em modo de pausa. Mas Richard D. James, de quem devemos reconhecer o histórico Selected Ambient Works 85-92 como um dos mais marcantes episódios na história da música electrónica, na verdade não fez silêncio, optando antes por lançar discos através de muitos outros heterónimos, nomeadamente assinado-os como AFX, The Tuss ou Caustic Window (sob este último nome tendo surgido este ano a notícia de uma rara prensagem que acabou leiloada a preços de mercado de arte). Syro, novo disco que edita como Aphex Twin é contudo, e de facto, o primeiro disco que nos apresenta sob este nome (central à sua obra) desde Drukqs (2001) e, mesmo não exibindo – como o fizeram outros discos seus editados nos anos 90 – sinais de olhar no gume da linha da frente da composição com electrónicas, representa um dos mais cativantes conjuntos de composições que, sob estas mesmas ferramentas, chegaram a disco nos últimos tempos. O disco – que surge numa altura em que não é segredo que Richard D. James tem um extenso volume de gravações inéditas em arquivo – pode representar uma primeira amostra do trabalho que foi acumulando ao longo dos últimos anos. Por isso mesmo, em vez de procurar uma eventual ordem conceptual, Syro opta antes por apresentar uma coleção de composições que juntam beats e bleeps em construções onde o músico lança memórias sobretudo captadas nos oitentas (particularmente luminosas quando visita o eletro e, pontualmente, um delicioso eletro-funk), ocasionalmente ensaiando diálogos com paisagismos rítmicos definidos pelo drum’n’bass ou assimilações de ensinamentos do techno, assimilando ainda o glitch como janela de comunicação com o presente. O alinhamento encerra ao som do belíssimo Aisatsana, tema dominado por um piano que aceita heranças remotas de um Satie mas nada mais faz senão o aprofundar de um esbatimento de fronteiras entre espaços e géneros musicais que afinal não é surpresa num músico que em tempos pediu um arranjo (para o tema Icct Hedral) a Philip Glass e que já viu a sua música a ser interpretada pela London Sinfonietta (e quem sabe ainda por aí haverá mais surpresas um dia...). Para já, e mesmo sem procurar inventar o próximo passo, a verdade é que entre a mestria na concepção arquitectónica do som (sob um exemplar labor de produção) e a unidade que consegue encontrar entre a versatilidade de ideias aqui ensaiadas, Aphex Twin consegue fazer de Syro o mais entusiasmante disco de música electrónica de 2014 até este momento.