quinta-feira, setembro 18, 2014

Novas edições:
Tricky

“Adrian Thaws”
False Idols
4 / 5

E ao décimo álbum Tricky responde-nos com o seu nome real: Adrian Thaws. O simples despir da persona sugere desde logo uma ligação a um “eu” mais profundo, procurando talvez um caminho de busca não apenas de traços de identidade mas também de desejos que por vezes possam ter sido preteridos face a outras eventuais prioridades. Num momento em que caminhamos a passos largos para (em 2015) assinalar os 20 anos sobre a edição de Maxinquaye, o álbum de estreia que assinalou o seu momento de emancipação – após uma etapa de colaboração mais intensa com os Massive Attack – Tricky apresenta, naquele que é o seu décimo álbum de estúdio, um episódio de síntese que congrega elementos que podemos ligar a diversas etapas do seu percurso e revisita formas que em tempo já experimentou, ao mesmo tempo que ensaia o terreno novo (para si, claro) de uma mais clara relação com as electrónicas talhadas para uma relação com a pista de dança. Em Nicotine Love ensaia estes novos movimentos (ele mesmo terá dito que foram muito raras as ocasiões em que escutou música numa discoteca), mas o alinhamento de Adrian Thaws nem se esgota nem fixa apenas por aqui, propondo mesmo um percurso invulgarmente variado (de tão variado que é quase sugerindo mesmo um monumento tutti frutti)... Há uma importante presença de electrónicas (não tão de linha da frente como as que os conterrâneos Portishead apresentaram em Third, mas não tão fechadas como as que escutámos no mais recente disco dos Massive Attack), um relacionamento (clássico) com vozes femininas – surgindo aqui, com Tirzah e Francesca Belmonte algumas canções próximas do registo da balada (e nelas alguns dos melhores instantes do alinhamento) -, colaborações com figuras de gerações mais jovens (como, por exemplo Mykki Blanco), atmosferas assombradas, histórias do mundo ao seu redor e ideias ensaiadas no cruzamento de vários géneros (até mesmo o ska, em Silly Games). Há um tropeção dispensável no momento em que se experimenta inconsequentemente o terreno hardcore à la Prodigy em Why Don’t You... Feitas as contas é capaz de ser o melhor disco que nos dá desde os anos 90.