sexta-feira, setembro 12, 2014

Nos 100 anos de Robert Wise

Robert Wise (1914-2005) é uma daquelas figuras a que a história dos filmes tende a emprestar um reconhecimento equívoco. Na altura em que se assinala o centenário do seu nascimento (nasceu a 10 de Setembro de 1914), vale a pena recordar que a sua imagem de marca — como autor de um dos maiores sucessos de toda a história do cinema americano: The Sound of Music/Música no Coração (1964) — será sempre insuficiente para dar conta da dimensão da sua herança. Desde logo, porque a noção segundo a qual Música no Coração resultou da mera acumulação de receitas banalmente eficazes passa ao lado da sua agilidade formal na reconversão da tradição do melodrama musical. Depois, porque a colagem da filmografia de Wise a um conceito mais ou menos ligeiro de entertainment constitui, no mínimo, um insulto à versatilidade da sua trajectória.
À boa maneira de muitos profissionais de Hollywood que começaram nos primeiros anos do cinema sonoro, Wise afirmou-se como especialista das áreas "técnicas", mais concretamente da montagem. Antes mesmo de ter dirigido um único filme, o seu nome já tinha conquistado o direito a figurar em qualquer história do cinema. Porquê? Porque foi ele o responsável pela montagem das duas primeiras longas-metragens de Orson Welles: Citizen Kane/O Mundo a seus Pés (1941) e The Magnificent Ambersons/O Quarto Mandamento (1942).
Estreou-se na realização com uma sequela de Cat People/A Pantera (1942), de Jacques Tourneur, intitulada The Curse of the Cat People/A Maldição da Pantera (1944), lançando uma carreira que, longe da noção de "autor" (tal como seria consagrada pelas novas vagas da década de 60), o impôs como um genuíno artesão de invulgar versatilidade.
Num filme sobre o boxe (The Set-Up/Nobreza de Campeão, 1949), no drama mais intenso (I Want to Live!/Quero Viver!, 1958) ou no mais elaborado terror (The Haunting/A Casa Maldita, 1963), Wise deu mostras de ser um invulgar narrador, desses que sabem apoiar-se, não na exibição gratuita da técnica, mas nas potencialidades de um bom argumento. Isto sem esquecer, claro, que deixou a sua marca em referências hoje lendárias, quer da ficção científica, como The Day the Earth Stood Still/O Dia em que a Terra Parou (1951), quer do musical: West Side Story/Amor sem Barreiras (1961), co-realizado com Jerome Robbins, é mesmo um daqueles clássicos que há muito transcendeu épocas, tendências ou estilos.

>>> 19 Fevereiro 1998: Robert Wise recebendo uma distinção honorária do American Film Institute.


>>> Robert Wise no TCM.