No dia em que Brigitte Bardot festeja 80 anos — nasceu a 28 de Setembro de 1934, em Paris —, somos levados a recordar imagens emblemáticas como esta, provavelmente da segunda metade da década de 70. Há uma ironia desconcertante em tal memória: foi antes disso, mais precisamente logo após a rodagem de A Vida Alegre de Colinot (1973), de Nina Companeez, que Bardot, aos 39 anos, abandonou a carreira de actriz.
Bardot está ligada a títulos que, pelas mais diversas razões, há muito transcenderam qualquer pitoresco nostálgico da época em que foram produzidos. Ela foi, afinal, a musa de E Deus Criou a Mulher (1956), dirigido pelo seu primeiro marido, Roger Vadim, e também a presença ao mesmo tempo carnal e etérea de O Desprezo (1963), viagem poética pelas seduções e enigmas dos bastidores do cinema, por certo o mais conhecido dos filmes de Jean-Luc Godard [trailer]; além do mais, o seu nome surge associado a fenómenos populares da década de 60 como Viva Maria! (1965), de Louis Malle, ou Shalako (1968), de Edward Dmytryk, em que contracenou, respectivamente, com Jeanne Moreau e Sean Connery.
Ainda assim, a persistência da sua figura decorre de uma verdadeira dimensão de star que, não sendo estranha ao seu trabalho na defesa dos direitos dos animais, envolve um poder muito particular do cinema: o de transfigurar os seus protagonistas em personagens intemporais, maiores que a vida. Será também por isso que, para além dos altos e baixos de uma vida sempre exposta ao labor populista de algum jornalismo, Bardot se pode confessar "sem arrependimentos nem remorsos".