DGM
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David Sylvian já tinha trabalhado com Roger Fripp, por exemplo, em Gone To Earth, representando mesmo o segundo disco desse álbum duplo de 1986 um dos melhores exemplos entre as várias parcerias instrumentais que o músico foi delineando na sua primeira década de trabalho a solo, ao mesmo tempo que definia, juntamente com a primeira parte desse álbum e os LPs Brilliant Trees (1984) e Secrets of The Beehive (1987), um caminho de demanda muito pessoal no espaço da canção cujas primeiras expressões podemos encontrar ainda nos dias dos Japan em Ghosts (1981) e, em parceria com Ryuichi Sakamoto, em Forbidden Colours (tema de 1983 da banda sonora do filme de Nagisa Oshima Feliz Natal Mr. Lawrence). Contando com uma (espantosa) equipa de colaboradores nesses primeiros discos que lançou nos anos 80 – e entre os quais se contam nomes como Jon Hassell, o já referido Sakamoto ou Mark Isham – Sylvian juntou aos primeiros títulos da sua obra a solo dois álbuns criados em conjunto com Holger Czukay (nos quais experimentou espaços de criação pela improvisação que teriam consequências mais profundas em discos futuros) e uma parceria com Russell Mills que resultou da transformação em livro e disco de uma instalação. Apesar de assinado apenas por David Sylvian, o EP de 1985 Words With The Shaman (e o álbum instrumental Alchemy: An Index Of Possibilities que se lhe seguiu) representa outro espaço de esforço partilhado entre vários músicos e ideias, surgindo aqui, de resto, uma primeira parceria com Fripp (uma das principais forças criativas dos King Crimson). Esse EP e o álbum Gone To Earth definiram assim um primeiro patamar de entendimento entre Sylvian e Fripp que levantou hipóteses de novos desenvolvimentos. E em inícios dos anos 90, depois de arrumada a experiência (pontual) com os Rain Tree Crow – projeto nascido de uma reunião de elementos dos Japan – os dois músicos aprofundaram o trabalho conjunto num primeiro disco que assinaram a dois e no qual as marcas mais firmes dos universos de cada um se mostram claras e vivas. Na verdade, talvez a pulsão rock das guitarras de Fripp e a herança das genéticas progressivas que ele mesmo ajudou a desenhar têm uma presença mais visível em The First Day, a Sylvian cabendo contudo a condução dos caminhos das palavras e, sobretudo, uma voz que não deixa escapar a sua personalidade mesmo perante nova cenografia. Sob uma arquitetura rítmica bem definida – algo que Sylvian já conhecera nos Japan e voltaria a viver anos depois via Nine Horses – o disco ora apresenta canções de recorte rock mais clássico como Jean The Birdman ou God’s Monkey ora mergulha em território de libertação para lá destas formas seguindo velhas sugestões prog, em Darshan, contudo, partilhando espaços com uma assinatura rítmica claramente em sintonia com linhas em marcha nos anos 90. O final do alinhamento, ao som do mais ambiental Bringing Down The Light, aproxima-se mais claramente de território Sylvian e de experiências instrumentais que caracterizariam alguma da sua (escassa) criação no resto dos anos 90. Entre Sylvian e Fripp o episódio seguinte seria Damage, disco ao vivo que, tal como este álbum de 1993, regressa agora com o som remasterizado.