quinta-feira, agosto 14, 2014

Pussy Riot na série 'House of Cards'


Segundo uma notícia publicada pelo City Paper, de Baltimore, elementos das Pussy Riot vão surgir num episódio da terceira época de House of Cards, neste momento em produção. Segundo avança o jornal Nadezhda "Nadya" Tolokonnikova e Maria Alyokhina estiveram ontem no plateau onde está a decorrer a rodagem dos novos episódios...

Surpresa? Sim, mas não tanto assim...

Desde o início a série tem apostado numa ligação ao mundo "real" através de presenças que leva para o ecrã, nomeadamente figuras da comunicação social como, entre outros, John King da equipa de política da CNN. Apesar de se procurar aqui uma ligação diferente da que vemos em Newsroom - sobretudo em episódios que partem de situações factuais para, tomando-as como contexto, partir depois para a construção da narrativa de ficção - não deixa de se sentir também em House of Cards uma busca de um sentido de verosimilhança que pede assim caução ao mundo real.

Há contudo uma diferença política evidente entre a apresentação de figuras do jornalismo televisivo - mesmo sendo de notar a que estações de televisão a série vai "buscar" os cameos - e o levar de dois elementos das Pussy Riot para um espaço de ficção que retrata os bastidores do mundo político. A sua presença, aqui, é política em si mesma.

Se no espaço do jornalismo o peso político da televisão é há muito evidente - e basta recordar como, num célebre debate, a testa suada de Nixon lhe custou muitos votos quando Kennedy o derrotou em 1960 - o terreno que transcende a informação tem também enorme impacte. Ficou, por exemplo, para a história o momento da apresentação do livro The Audacity of Hope, de Barack Obama, no programa de Ophrah Winfrey. Ali se fez um dos episódios centrais da pré-campanha que algum tempo depois o levaria à Casa Branca. O mesmo Obama foi o primeiro presidente em exercício a passar pelos grandes talk shows da TV americana... Uma figura que habitava os espaços de informação passou a ser presença também nas esferas do lazer. O novo paradigma fica lançado. E o mundo da ficção, aos poucos, começa a procurar formas de o refletir.

Deve a ficção televisiva ser também política? Se celebramos as vozes "interventivas" de um Bob Dylan, Bruce Springsteen ou Sérgio Godinho, porque não? Quem não gostar/concordar, tem canais e veículos que cantam no sentido contrário.

Podem ler aqui a notícia do City Paper