sexta-feira, agosto 22, 2014

Os ecrãs contra as crianças

FOTO: Chris Stein/Getty Images — Time
1. "Muitas pessoas estão a considerar os benefícios dos meios digitais na educação, mas não há muitas a ter em conta os aspectos negativos. Um desses aspectos é uma diminuição da sensibilidade em relação a sinais emocionais, ou seja, a compreensão das emoções dos outros" — são palavras de Patricia M. Greenfield, professora de psicologia da Universidade da Califórnia (UCLA), num estudo que comparou o comportamento de um grupo de crianças que passaram cinco dias com acesso regular a televisão, telefone e Internet com o comportamento de outro grupo que, durante o mesmo período, apenas conviveu entre si. Resultado: face às mesmas imagens com que, depois, todas foram confrontadas, as crianças que não tinham estado em contacto com ecrãs deram provas de muito maior agilidade e acutilância na leitura de sinais "não verbais".

2. Como escreve Belinda Luscombe em artigo da Time sobre este estudo, citando a respectiva coordenadora, Yalda T. Uhls, do Children's Digital Media Center, não se trata de demonizar todas as utilizações dos ecrãs, mas sim de lembrar que, para os jovens, o face a face é "uma parte importante do processo de socialização".

3. São dados, observações e interpretações tanto mais importantes quanto nos movemos em contextos que tendem a considerar os ecrãs — nomeadamente a televisão — como um espaço "natural" cujos efeitos de (anti-)socialização são irrelevantes. Em boa verdade, esse ponto de vista, frívolo e demagógico, apenas serve para boicotar qualquer reflexão série sobre os ecrãs do mundo em que vivemos.