domingo, agosto 03, 2014

A américa de Aaron Copland
escutada no outro lado do mundo


A orquestra sinfónica de Melbourne (Austrália) é mais um exemplo de uma entidade que, longe das grandes cidades europeias e americanas que são verdadeiras dos grandes acontecimentos na música clássica, pode encontrar nos discos um cartão de visita para os que ainda a não conheçam. Há bem pouco tempo um (bom) ciclo sinfónico de Sibelius editado pela Naxos ajudou a focar algumas atenções sobre a New Zeland Symphony Orchestra (que tem por diretor artístico o finlandês Pietari Inkinen). Talvez não seja este disco com música de Aaron Copland uma peça capaz de gerar a continuada atenção que uma série (bem gerida, bem gravada e bem interpretada) possa garantir. Mas a forma como a luminosidade dos ecos de uma América que Copland ajudou a definir musicalmente conhecem aqui um retrato bem interessante, sobretudo numa abordagem ao célebre Appalachian Spring, suite orquestral criada em 1945 a partir de música originalmente criada para um bailado estreado em 1944 e que ressoa muito do pensar musical de Copland sobre uma ideia de paisagismo rural americano que conheceria descendências várias, sobretudo na música para cinema de meados do século XX. Sob direção de Benjamin Northey, um dos três maestros que presentemente trabalham com maior regularidade com esta orquestra australiana, a suite encerra um alinhamento discográfico que abre com o ciclo de canções orquestrais Eight Poems of Emily Dickinson (contando com a voz de Emma Mathews), que o mesmo Aaron Copland compôs em 1970, criando arranjos a partir de oito das 12 canções de um ciclo originalmente criado em finais dos anos 50 para voz e piano a partir de poemas da norte-americana Emily Dickinson. Retratos americanos que nos chegam do outro lado do mundo e celebram momentos maiores na história da música do século XX, os que aqui se apresentam são um bom exemplo do que podemos descobrir olhando para lá dos espaços mais habituais da nossa atenção musical.