quarta-feira, julho 16, 2014

Yann Andréa (1952 - 2014)

Escritor, derradeiro companheiro de Marguerite Duras (1914-1996), o francês Yann Andréa foi encontrado sem vida no seu apartamento de Paris, no dia 10 de Julho — contava 61 anos.
Impossível não olhar para as fotografias de Yann Andréa sem detectar nelas um misto de vulnerabilidade e tristeza que a escrita de Duras nos obriga a reconverter em qualquer coisa que, em última instância, se escreve e inscreve na obra da autora de India Song.


É uma história de amor, sem dúvida, naquilo que o amor pode envolver de apagamento e canibalismo erótico desse mesmo apagamento. Yann deu-se a conhecer a Marguerite em 1975, numa projecção de India Song, num cinema de Caen. O que se seguiu adquiriu contornos de lenda que se conta sem se perguntar como nem porquê: ele pede-lhe a sua morada e começa a escrever-lhe, regularmente; ela não responde durante vários anos, até que, em 1980, lhe envia o livro L'Homme Assis dans le Couloir, nesse mesmo ano convidando-o a aparecer em Trouville — ficaram juntos desde então, até à morte da escritora de quem, aliás, Yann será o executor testamentário.
Em boa verdade, é a história de uma perda de identidade e também do ganho insensato que, através de tal perda, o amor consagra. De seu nome de baptismo Yann Lemée, receberá da própria escritora a nova assinatura pública de Yann Andréa, integrando o nome próprio da sua mãe — consagrar a mãe e o filho da unidade fictícia do nome, eis a crueldade amorosa de Duras que celebra a sua criação em Yann Andréa Steiner, livro de 1992 em que Yann surge com o apelido de Aurélia Steiner, personagem deambulante dos livros (e filmes) de Duras.
O próprio Yann irá escrever sobre Duras, primeiro em M.D. (1983), evocando a sua hospitalização em forma de carta, mais tarde em Cet Amour-là (1999), testemunhando a sua relação [video: Yann Andréa no programa Bouillon de Culture, de Bernard Pivot, a 19 de Setembro de 1999] — o livro dará origem a um filme homónimo (Aquele Amor), realizado por Josée Dayan, com Jeanne Moreau e Aymeric Demarigny a interpretar o par.


Yann Andréa publicaria ainda Ainsi (2000) e Dieu Commence Chaque Matin (2001), depois retirando-se da vida pública. Autora obstinada das convulsões da vida material, talvez que Duras tenha inventado, através de Yann, a sua segunda morte — através dele e, no limite, para ele.

>>> Obituário na revista Le Point.