Um dia a história recordará os instrumentais apresentados nos álbuns Low e Heroes, ambos de 1977, como peças marcantes na construção de uma visão da vida urbana da segunda metade do século XX através da música. Criados por David Bowie em colaboração com Brian Eno, sob produção de Tony Visconti e a participação de músicos como Robert Fripp ou Carlos Alomar, esses temas instrumentais assinalaram primeiros sinais de assimilação das novas linguagens eletrónicas por parte de uma obra nascida em mais clássico terreno pop/rock. Sobretudo encantando pelo influente Autobahn dos Kraftwerk, Bowie reconheceu em Eno (que em 1975 dera os primeiros passos rumo a estes terrenos no seu primeiro depoimento "ambiental" e encetara outras demandas em colaborações com outros músicos) um parceiro para um labor do qual resultaram peças que olharam o presente como influência e definiram caminhos que o futuro logo depois abraçaria.
Uma nova importante contribuição para a história dos instrumentais destes dois álbuns de Bowie chega-nos agora em Subterraneans, disco de Dylan Howe que se apresenta com o subtítulo New Designs on Bowie's Berlin. Temas como Art Decade, Neukoln ou Warszawa são aqui reinventados pelo baterista britânico, filho do guitarrista de Steve Howe e antigo colaborador de Ian Dury, com quem tocou entre 1997 e 2010. Dylan trabalhou ainda com a dupla Steve Howe & Wilko Johnson (2010-2013) e colaborou já com figuras como Nick Cave, Damon Albarn, Ray Davies, Paul McCartney, David Gilmour, Beth Gibbons, Gabrielle e Hugh Cornwell .
Neste pequeno filme promocional podem escutar excertos das leituras dos instrumentais de Bowie que surgem neste disco de tributo que transporta estas visões tensas de uma Berlim ainda então dividida pelo muro para um jazz que respira outra liberdade nesta alvorada do século XXI.