sábado, julho 19, 2014

Em conversa: Silva (3 / 3)

Esta é a terceira parte da transcrição de uma entrevista com o músico brasileiro Lúcio Silva (que assina apenas como Silva na hora de fazer discos e se mostrar em palco) que serviu de base ao artigo 'Um disco para ouvir outros rumos na música do Brasil' publicado na edição de 16 de julho do DN.

O que deu a vivência de Lisboa a este disco?
Foi muito importante para mim. Ainda estou a tentar digerir o que aí passei. Eu não queria usar isso de uma forma como a Ivete Sangalo, que chega aí e diz “Portugal eu amo vocês”... Não queria que fosse uma coisa assim. Eu fiquei apaixonado por Lisboa. Eu não consigo nem ver o que Lisboa mudou no meu disco. Mudou muita coisa... Escrevi algumas musicas aí sim, um dos singles inclusive "É Preciso Dizer" foi todo feito em Lisboa. Muitas letras foram finalizadas por aí também. Enfim, Lisboa só fez bem ao meu trabalho.

Ficou quanto tempo na cidade?
Cheguei no final de novembro de 2013 e fiquei até ao começo de janeiro. Fiquei no Bairro Alto. 

Além da música a cidade também deixou marcas em si?
Exatamente, e foi um processo natural. Primeiro o clima da cidade é muito interessante. Vejo que os portugueses são muito interessados em coisas novas. Pelo menos era assim entre as pessoas com quem estive. Havia uma paixão pelas coisas e uma sede de conhecer. E isso deixa-me feliz e me impulsiona. Lembro-me de um fim de semana em que fui ao Lux... Ia para um clube... E cheguei lá e estava lá a tocar o Panda Bear!... Aqui no Brasil uma coisa dessas seria caríssima num festival em São Paulo. Ali foi tranquilo e estava toda a gente a prestar atenção ao concerto. Quando estou num lugar assim, onde acontecem várias coisas interessantes, isso deixa-me muito inspirado. Moraria em Lisboa... É um lugar incrível e não preciso ficar a dizer isso, acho... 

Regressou recente para atuar no Rock in Rio. Como são agora os seus concertos? Há mais gente em palco... Pelo menos esta música pede mais instrumentos...
Antes tocava eu mais um baterista em palco. Agora tenho um guitarrista, que também toca sintetizador e um baixista. E sopros que convido nos lugares onde vamos tocar. 

Envia a partitura e localmente ensaiam?
Para quem toca profissionalmente as partes de sopros são bem fáceis. É tranquilo.

Além do Brasil e Portugal onde vamos poder encontrar este seu disco?
Nunca pensei em termos de mercado. Quando comecei foi uma coisa meio intuitiva. Mas não há como evitar. É mesmo assim uma coisa nova para mim, ainda meio um fantasma. Que me incomoda de vez em quando, que às vezes nem sei bem o que fazer... Acabei de assinar com um selo de São Francisco e o disco vai ser lançado nos Estados Unidos em agosto, com o título Ocean View. E gravei duas versões em inglês, as de Vista Pro Mar e Janeiro... Eles queriam uma coisa mais world music, mais internacional. Foi isso...

Acha que a vivência na Irlanda ajudou a melhorar até a comunicação numa língua que não o português?
Ajudou sim. Às vezes ainda fico um pouco com medo... O meu inglês é razoável, consigo comunicar bem. Mas estou feliz. Estou à espera. Pode dar alguma coisa, pode não dar nada. Mas estou curioso para ver o que vai ser.