Há várias maneiras de contar uma história. E Kelly Reichardt já nos tinha mostrado em ocasiões anteriores que sabia encontrar a sua forma muito pessoal de as abordar (e basta recordar o anterior O Atalho para reparar numa forma diferente de caminhar pelos terrenos do western). Em Night Moves, que chegou às salas portuguesas há poucos dias, a realizadora norte-americana dá-nos um espantoso olhar sobre uma pulsão “terrorista” de um trio ativista que procura destruir uma barragem mas, mais ainda, acaba por centrar o foco do filme na forma como o medo e a dúvida invade a vida dos que agiram na hora da tomada de consciência das consequências.
Co-escrito pela própria realizadora, com o seu habitual colaborador Jonathan Raymond, Night Moves junta um elenco reduzido, mas de peso – Jesse Eisenberg, Dakota Fanning e Peter Skarsgaard – para acompanhar um trio de ativistas ecologistas “radicais” (é o termo que tem sido usado nos media) que preparam e executam uma missão: a destruição, com um barco armadilhado, de uma barragem.
Apostando num jogo que sabe caminhar entre os silêncios e os diálogos e olha para a paisagem rural que envolve as personagens não em busca de postalinhos pastorais, mas de uma verdade primordial que os abraça naturalmente no dia-a-dia e parece ser afinal o motor que os impele a agir, Night Moves apresenta-se em dois segmentos distintos. O primeiro apresenta as personagens e a preparação da ação, traçando mais o clima emocional em que habita a ideologia que leva três figuras aparentemente pacatas a agir de forma drástica que procurando fazer o mapa político das suas ideias. Depois da explosão (que não faz da câmara um mirone) assistimos ao grassar progressivo do medo entre os três ativistas e, a dada altura, a tomada de consciência de que houve uma vítima inesperada (e não desejada) numa ação que, afinal, foi inconsequente, os estragos materiais (e a vítima humana) sendo mais evidentes que as mudanças no ecossistema local. Não parecedo que haja aqui necessariamente a procura de um juízo moral e ao mostrar sobretudo a dúvida e o medo entre quem lança as ações, Kelly Reichardt faz de Night Moves um (espantoso) filme diferente sobre o terrorismo.