terça-feira, julho 29, 2014

Novas edições:
Tom Petty & The Heartbreakers

“Hypnotic Eye”
Warner Bros.
4 / 5

Aquela ideia pré-concebida que canta que as coisas acalmam com o tempo conhece no novo álbum de Tom Petty & The Heartbreakers uma saborosa contradição. Quatro anos depois de Mojo e seis após a breve reunião dos Mudcrutch (o projeto que precedeu os Heartbreakers), o novo disco não só mantém a firme ligação de Petty com as essências de raiz norte-americana de um rock clássico talhado em meados dos setentas de que ele, juntamente com Bruce Springsteen, são figuras de referencia, como junta um outro elemento em cena: o garage rock. Se é verdade que foi ao ver os Beatles a atuar no programa de Ed Sullivan que o músico (de berço na Florida) sentiu que estar numa banda seria o seu futuro, por outro lado uma atenção aos acontecimentos que a cultura pop/rock tomou na segunda metade dos sessentas deixou semeadas ideias e experiências que aqui afloram com conhecimento de causa. Sem se afirmar necessariamente como um ensaio de nostalgia – era-o mais, por exemplo, a vivência partilhada ao lado de George Harrisson, Bob Dylan, Roy Orbison e Jeff Lynne nos Traveling Wilburys – o novo Hipnotic Eye é antes um disco que assinala pontes entre ecos da memória de experiências de outros tempos e um presente em que tudo se materializa e a vontade em estar ativo é evidente. Se bem que plasticamente distinto de outros manifestos de vitalidade criativa de veteranos – como o foram Chaos & Creation In The Backyard de Paul McCartney ou Songs From The West Coast de Elton John – Hypnotic Eye revela não apenas um belíssimo conjunto de canções de alma “clássica” como revela sinais de um saber fluente no cruzamento entre as linguagens roots rock que fazem a medula da linguagem do som de Tom Petty com os Heartbreakers como junta, em alguns dos temas-chave do alinhamento, a vibração elétrica com carga melodista escutada nos velhos nuggets “de garagem”. Essa presença, que tem algum protagonismo no alinhamento, não apaga contudo a presença de valores de raiz, nomeadamente os blues, que emergem, por exemplo, em Power Drunk ou Burnt Out Town. Mas, convenhamos, é sob o viço elétrico de canções como American Dream Plan B, Fault Lines ou Forgotten Man que Petty apresenta um dos discos mais inteligentemente musculados da sua obra mais recente. Rock clássico, portanto.