sexta-feira, julho 04, 2014

Novas edições:
Flaming Lips, 7 Skies H3

The Flaming Lips
“7 Skies H3”
Bella Union
3 / 5

Não lembraria a ninguém “reduzir” o longo filme Empire (1964), de Andy Warhol, um plano fixo de 8 horas e 5 minutos (em slow motion) sobre o Empire State Building a uma duração compatível com o espaço de um DVD para eventual comercialização... O filme, que frequentemente surge em exposições e eventos habitualmente associados a museus de arte contemporânea, é tudo menos uma experiência de “home entertainment”. E fica ali bem onde está... Nos museus... Na música as coisas por vezes conhecem versões... curtas. O célebre Einstein on The Beach, de Philip Glass, tinha na sua versão original 5 horas de duração. Mas há várias abordagens em disco, inclusivamente num CD único com highlights... Os Flaming Lips resolveram fazer algo não muito diferente com uma peça que, na origem, foi pensada para ter uma duração de 24 horas. Não é a primeira vez que vemos o grupo a transcender o espaço “normativo” dos formatos e hábitos da cultura pop para desafiar ideias que estabelecem pontes com espaços da arte experimental, diluindo assim as fronteiras entre o mundo dos discos e o dos museus e das galerias de arte. Em 1997 lançaram Zaireeka, um álbum quádruplo que, para ser “devidamente” escutado, pedia que os quatro discos fossem ouvidos em simultâneo (e atenção que tem já edição em vinil). Mais recentemente (em 2012) lançaram The Flaming Lips and Heady Fwends, um disco que teve, além do CD e versão digital, uma edição limitada em vinil no qual O vocalista Wayne Coyne anunciou que havia amostras de sangue de colaboradores envolvidos (como Yoko Ono, Nick Cave, Erykah Badou ou Kesha)... Agora é a vez da canção que dura um dia inteiro... O tema 7 Skies H3 surgiu no Halloween de 2011, numa edição ultra-limitada de 13 cópias, em drives colocadas dentro de crânios humanos ao preço de cinco mil dólares (tendo surgido uma verão gratuita online num site que a revelava em loop)... Este ano, para o Record Store Day, o grupo partiu da canção de 24 horas, reduzindo-a a 50 minutos, apresentados em dez fragmentos que foram prensados em vinil transparente (num lançamento limitado a 7500 unidades). Agora chega a versão mais “acessível”, para streaming ou em CD, precisamente com esse alinhamento ao jeto de highlights... E o que escutamos. Sim, finalmente, o que escutamos?... Sem o efeito contínuo o que encontramos são dez momentos de um todo que em comum partilha uma resistência aos formatos mas clássicos da canção (a que o grupo acedeu, e com resultados memoráveis, vale a pena lembrar, em discos como The Soft Bulletin, de 1999 ou o inesquecível Yoshimi Balltes The Pink Robots, de 2002). De resto, por cada um revelam-se demandas distintas, das sequências ambiente 7 Skies H3 (Main Theme) (o melhor momento do disco) ao noise de Riot In My Brain, do momento épico e cinematográfico de Batteling Voices From Beyond à belíssima balada de tonalidades prog de Can’t Let It Go (que nos lembra de quão bons os Flaming Lips podem ser quando resolvem ser mais arrumados)... Estamos num terreno experimental com algumas afinidades com o que os Pink Floyd faziam nos tempos de Ummagumma... Talvez a coisa fosse então mais consequente... Mas mesmo demonstrando algumas qualidades maiores dos Flaming Lips, e revelando até alguns instantes magníficos, este é contudo mais um episódio num compasso de espera por um (eventual) sucessor do álbum de 2002 que, por interessantes que tivessem sido os discos At War With The Mystics (2006) e The Terror (2013), ainda nunca surgiu. E não era nada má ideia que aparecesse...