Domino / Edel
3 / 5
O espaço da pop mais bem vitaminada dos sessentas é ainda uma fonte bem nutritiva de ideias para criar novas canções. Do já clássico álbum de estreia dos Stone Roses (em 1989) ao belíssimo monumento que os Last Shadow Puppets criaram no único álbum que (até agora) gravaram, há exemplos bem vivos de como aquele é um universo ainda capaz de gerar boas ideias sem que necessariamente se tropece nas armadilhas do mero decalque. Com obra em disco desde 2007, um muito elogiado álbum de estreia editado em 2008 e uma visibilidade agora reforçada numa parceria (como músico de estúdio e companheiro de palco) com Miles Kane (sim, uma das metades dos Last Shadow Puppets), Eugene McGuiness faz de Chroma, o seu novo álbum, mais um seguro espaço de afirmação de como esta mesma carteira de referencias ainda é estimulante e atual. O tema de abertura (do quase não notado) The Invitation to The Voyage, editado em 2012, poderia indiciar uma inflexão no rumo da sua obra no sentido de um avanço em terreno dominado pelas electrónicas. Mas, mais ainda que no álbum de 2008, Chroma propõe uma pop clássica feita com guitarras e conhecedora das formas e caminhos pelos quais se fez muita da melhor produção pop/rock da segunda metade dos sessentas. Godiva, a abrir o alinhamento, cita diretamente (e com um doce piscar de olho) a memória de Day Tripper dos Beatles. Está assim definido o terreno em que tudo depois se desenrola nas dez outras canções que completam o alinhamento de um álbum que, mesmo com um sabor dominante talhado por essas evocações de há quase meio século, não deixa de sublinhar que sabe que houve um tempo que entretanto passou, e que tanto se afirma ora nos arranjos com electrónicas de I Drink Your Milkshake ou no tom atual de uma produção de travo indie à la inglesa, cuidada e polida. Não se trata de um momento que vá transformar o rumo das coisas. Mas é um belo disco pop com sabor familiar e uma coleção de canções que não envergonha ninguém.