The Auteurs
“Now I’m A Cowboy”
3 Loop Music
4 / 5
O disco que nos revelou o talento de Luke Haines (um dos grandes escritores de canções dos últimos 20 anos) surgiu assinado pelos The Auteurs, a banda que tomou o protagonismo das suas atenções na alvorada dos anos 90. Sem uma filiação evidente em nenhum “movimento” maior do seu tempo, já que não partilhavam encantamentos com a euforia dançante que tivera berço em Manchester em finais dos oitentas nem encaixaram a rigor no clima brit bop que nasceu pouco depois (apesar de ter havido quem os tivesse procurado meter no mesmo saco), os Auteurs tiveram em New Wave, o seu álbum de estreia, um dos mais importantes discos de canções pop feitas com guitarras criados na Inglaterra pós-Smiths (partilhando com o álbum de estreia dos House of Love e o único LP dos The La’s uma troika “essencial” do que de melhor então se fez nesse comprimento de onda). Formados com a sua companheira de então, um antigo colega de escola mais um violoncelista que chegou pouco depois, os Auteurs tiveram uma existência volátil na formação e desde cedo ficou evidente que eram um veículo para a escrita e a voz de Luke Haines. New Wave (1993), que chegou a ter uma nomeação para o Mercury Prize, colocou o nome do grupo em cena com uma coleção de canções absolutamente notável. Editado um ano depois Now I’m A Cowboy procurava uma lógica de continuidade na música e acentuava um desejo de retratar as realidades sociais do seu tempo nas palavras. De recorte clássico, a música doseia uma mais evidente presença da eletricidade (contudo bem distinta dos caminhos shoegazer então vigentes, mas com alma vigorosa bem marcada em Lenny Valentino, que foi cartão de visita do álbum) e uma ordem acústica bem evidente, servindo uma escrita que confirmava em pleno a expressão de uma personalidade que, com o tempo, se afirmaria como uma das forças maiores da geração inglesa dos noventas. É que, embora nunca tenha conhecido o sucesso e a visibilidade de figuras suas contemporâneas como Damon Albarn (Blur), Jarvis Cocker (Pulp) ou Brett Anderson (Suede), em Luke Haines encontramos uma das vozes (criativas) mais interessantes na construção de um panorama que devolveu as guitarras à linha da frente da cultura pop made in UK. E basta recuar a canções como Chinese Bakery, A Sister Like You ou Brain Child para reconhecer mais episódios gourmet da história do que de melhor a canção britânica nos deu nos anos 90. A nova edição “expandida” (como agora se diz) junta ao álbum os lados B dos singles dele extraídos, sessões gravadas para a BBC e o registo de um concerto captado em Leeds em 1993, na primeira parte de uma atuação dos The The.