Noites de Hollywood, é um capítulo de Morte Por Buraco Negro no qual Neil DeGrasse Tyson enumera uma série de gaffes que o cinema tem exibido na hora de olhar o cosmos. Dado o título do livro, começa desde logo por lembrar o Abismo Negro (Gary Nelson, 1979) – que está na lista dos dez piores filmes de sempre para Neil – em cuja reta final uma gigantesca nave mergulha... num abismo negro. Vejamos então como se portaram os técnicos dos efeitos visuais ao serviço desta produção... “A nave e a tripulação foram desfeitas em pedaços pelas forças de maré da gravidade cada vez maiores – algo que um buraco verdadeiro lhes faria? Não. Houve alguma tentativa de mostrar a dilatação do tempo relativista, prevista por Einstein”, que faria com que no universo em redor da tripulação condenada “passassem rapidamente milhares de milhões de anos enquanto eles só envelheceriam uns quantos tiques dos seus relógios de pulso? Não. A cena mostrou um disco de acreção em rotação rápida em torno do buraco negro. Ótimo. Os buracos negros fazem esse tipo de coisa com o gás que cai em direção a eles. Mas por acaso havia jatos de matéria alongados a serem cuspidos de cada um dos lados do disco de acreção? Não.”... Neil continua depois a enumeração... E conclui: “Em vez de representarem estas ideias cinematograficamente férteis e baseadas em ciência, os cineastas representaram as entranhas do buraco negro como sendo uma caverna húmida e desolada”... Fala então de ignorância do realizador. E dá como contraponto aquilo a que chamaria, caso existisse, a “liberdade científica”, que poderia dar aos homens de ciência poderiam “ao fazer arte” representar, por exemplo, os joelhos a dobrar-se da forma errada: “a menos que isto desencadeasse um novo movimento de expressão artística”, Neil conta que “os artistas” lhes diriam para regressarem “imediatamente à escola” para seguirem “umas quantas aulas de desenho acerca das bases da anatomia.
Mas nem tudo o que está mal acaba mal. Ao ver Titanic, de James Cameron, Neil reparou que o céu noturno ali representado não poderia ser o que viu quem naquela noite estava no Atlântico Norte. Disse-o num jantar ao realizador, que no momento até gracejou, fazendo Neil reparar que, se tinha ganho milhões com o filme como estava, imaginasse o que teria então ganho se o céu estivesse correto... Envergonhado, Neil deixou nessa noite o jantar com aquela sensação de que perdera uma boa oportunidade para estar calado. Mas para sua surpresa, algum tempo depois, um técnico de efeitos visuais contactou-o para assegurar que, na edição definitiva em DVD, o céu em Titanic fosse o correto.