FOTO: Paulo Spranger / Global Imagens |
'A questão [da identidade cultural europeia] é tanto mais complicada quanto é certo ter havido, ao longo dos milénios, e dentro do "campo europeu" (por variável que fosse a sua extensão para leste e para sudeste), fracturas e esfacelamentos escarniçados, crueldades horripilantes, comportamentos desumanos da mais variada ordem, que parecem, precisamente, pôr em causa essa identidade cultural e essa partilha de valores. O oficial nazi que, em pleno campo de concentração, toca partitas de Bach no seu violino poderia ser o símbolo de tais contradições... Não obstante, afigura-se que a identidade cultural da Europa, ao longo dos séculos, vai renascendo das próprias cinzas como a Fénix, ave mítica do seu património fabuloso, para se afirmar nas situações mais críticas como uma espécie de âncora insubstituível.'
V. G. M.
in A Identidade Cultural Europeia
(ed. Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2013)
Poeta, escritor, presidente do conselho de administração do Centro Cultural de Belém (CCB) desde Janeiro de 2012, figura maior da história da cultura portuguesa no último meio século, Vasco Graça Moura faleceu no dia 27 de Abril no Hospital da Luz, em Lisboa, vítima de cancro — contava 72 anos.
Estreou-se na poesia em 1962, como Modo Mudando, vindo a afirmar-se também no ensaio, no romance e, por fim, na tradução de clássicos como Shakespeare (sonetos), Petrarca (As Rimas) ou Dante (A Divina Comédia). Em todo o caso, ele próprio definia a poesia como a sua "forma verbal de estar no mundo" — em 2012, publicou em dois volumes Poesia Reunida.
A sua trajectória como escritor evoluiu em paralelo com o seu trabalho político; entre as funções que desempenhou incluem-se as de presidente da RTP (1978), presidente da Comissão Executiva das Comemorações do Centenário de Fernando Pessoa (1988) e da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses (1988-1995). Opositor veemente do Acordo Ortográfico, sobre ele escreveu A Perspectiva do Desastre (2008). Entre as muitas distinções que recebeu, incluem-se o Prémio Pessoa (1995) e o Prémio Nacional de Tradução (2007) do Ministério da Cultura italiano. Tinha sido homenageado, no passado dia 31 de Janeiro, na Fundação Calouste Gulbenkian.
Estreou-se na poesia em 1962, como Modo Mudando, vindo a afirmar-se também no ensaio, no romance e, por fim, na tradução de clássicos como Shakespeare (sonetos), Petrarca (As Rimas) ou Dante (A Divina Comédia). Em todo o caso, ele próprio definia a poesia como a sua "forma verbal de estar no mundo" — em 2012, publicou em dois volumes Poesia Reunida.
A sua trajectória como escritor evoluiu em paralelo com o seu trabalho político; entre as funções que desempenhou incluem-se as de presidente da RTP (1978), presidente da Comissão Executiva das Comemorações do Centenário de Fernando Pessoa (1988) e da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses (1988-1995). Opositor veemente do Acordo Ortográfico, sobre ele escreveu A Perspectiva do Desastre (2008). Entre as muitas distinções que recebeu, incluem-se o Prémio Pessoa (1995) e o Prémio Nacional de Tradução (2007) do Ministério da Cultura italiano. Tinha sido homenageado, no passado dia 31 de Janeiro, na Fundação Calouste Gulbenkian.
>>> Rosa Nocturna, fado de Vasco Graça Moura (letra) e Mário Pacheco (música), cantado por Ana Sofia Varela.
>>> Notícia do falecimento de Vasco Graça Moura no site do CCB.
>>> Obituário no Diário de Notícias.
>>> Diário de Notícias: última crónica.