Que há de novo no campo dos "blockbusters" e respectivos "super-heróis"? Nada. Zero — este texto foi publicado no Diário de Notícias (22 Abril).
É tempo de “blockbusters” americanos... Em que é que O Fantástico Homem-Aranha 2 se distingue da maior parte dos filmes de “super-heróis” produzidos nos últimos anos? Talvez apenas num aspecto: tem um trailer de maior impacto que os seus semelhantes [e alguns cartazes graficamente bem concebidos]. O que nos conduz a um problema sintomático: depois de vermos os monótonos 142 minutos de tão esforçada produção, ficamos com a sensação de que um ou dois dos “gags” mais sugestivos dos diálogos, um ou dois dos voos mais vistosos entre os arranha-céus de Nova Iorque, tudo isso já está nos dois minutos e meio do trailer...
Não é um acaso. É mesmo o resultado muito concreto da evolução conceptual e financeira deste tipo de produções. O entendimento do filme como uma aplicação formatada do mesmo fogo de artifício visual (e sonoro, quase sempre ensurdecedor) decorre, aliás, de uma trágica usurpação de poderes: as opções de carácter artístico passaram para segundo plano, prevalecendo uma lógica tecnocrática que já não emana dos estúdios, mas dos conglomerados da banda desenhada.
Uma velha demagogia considera que o cepticismo perante este estado de coisas decorre de um preconceito “intelectual” e “europeu”. Importa, por isso, referir que, em 2013, houve quem chamasse a atenção para o facto de a dependência económica e criativa de Hollywood deste tipo de produtos colocar o cinema americano à beira da “implosão” — quem o disse, além de possuir uma identidade visceralmente americana, dá pelo nome de Steven Spielberg. Afinal de contas, foi ele que, em 1975, deu origem aos “blockbusters” com um filme chamado Tubarão... Será preciso relembrar que a subtileza de uma qualquer breve cena de Tubarão reduz todas as explosões digitais do Homem-Aranha a um disparatado entendimento dos poderes espectaculares do cinema?