domingo, abril 06, 2014
Sai mais uma 'Carmina Burana'...
Entre as obras que os espaços da música “clássica” revelou no século XX a cantata Carmina Burana, estreada em 1937, deve ser das que mais gravações em disco e apresentações ao vivo terá conhecido. Do cinema ao universo da publicidade, a obra que deu então visibilidade global a Carl Orff tornou-se um caso de dimensão quase... pop. E, de certa forma seguindo uma política de resposta aos desígnios “by public demand”, todos os anos novos discos asseguram a sua constante presença (e renovação) nos escaparates das novidades, juntando novas interpretações às que ganharam o estatuto de clássicas, como a que Eugen Jochum registou para a Deutsche Grammophon em 1968 (sob o olhar e aprovação do próprio Carl Orff) e a que André Previn, à frente da London Symphony Orchestra, lançou pela EMI Classics. Nos últimos anos o já extenso lote de gravações de Carmina Burana recebeu, entre outras, novas gravações por Kritsjan Järvi (com a MDR Sinfonieorchester) ou Daniel Harding (com a orquestra e coro da rádio da BAVIERA), discos aos quais podemos juntar o Blu-ray de uma gravação de uma interpretação da Berliner Philharmoniker, com Simon Rattle na direção, editado no ano passado. Pelo caminho não têm faltado ocasionais gravações de versões diferentes, nomeadamente a de câmara.
Ao longo da história, sobretudo depois do fim da II Guerra Mundial, muitas vozes se dividiram na relação com Carl Orff (e esta sua obra maior) por conta da forma como o poder nazi “aprovou” e deu fôlego a esta cantata que tem por base um conjunto de textos medievais de índole festiva e satírica. A ligação de Orff ao poder nos dias do III Reich tem sido alvo de discussões, o que talvez explique a forma algo injusta como a sua restante obra por vezes quase parece silenciada, a popularidade da Carmina Burana impedindo todavia o esquecimento.
Este novo disco representa uma abordagem “canónica” à versão original de Carl Orff. Dirigida por Hans Graf, a London Philharmonic Orchestra apresentou em abril do ano passado uma noite de concerto que partilhava a Carmina Burana de Orff com a Sinfonia dos Salmos, de Stravinsky. Este é o registo ao vivo de parte desse mesmo concerto no Royal Festival Hall, revelando uma interpretação sóbria e contida, mesmo assim plena de cuidado na versatilidade da paleta cromática que a obra exala. Não será uma interpretação para mudar a nossa relação com a obra. Mas faz justiça à sua rara e muito peculiar personalidade.