segunda-feira, abril 28, 2014

Novas edições:
Damon Albarn, Everyday Robots


Damon Albarn
“Everyday Robots”
Parlophone
4 / 5

Há 20 anos a música pop made in England preparava-se para entrar em “guerra”. Pelo menos era assim que se retrataria, em 1995, o que parecia um combate entre os dois grupos ingleses que mais paixões acendiam nesse momento em que se começava a falar de um novo valor “caseiro”: chamaram-lhe brip pop. As armas contavam-se entre os dois “rivais”. De um lado, os Oasis. Do outro, os Blur. Na verdade repetindo aquela maneira de ver as coisas a preto e branco que nos sessentas perguntava a muitos: Beatles ou Stones? (E porque não os dois?). Se os Oasis tinham conhecido sucesso imediato com o álbum de estreia, os Blur (formados em 1989) tinham já uma carreira em curso, respeitada na crítica, visível no mercado, mas ainda coisa de culto. Até que, a 25 de abril de 1994, o álbum Parklife tudo mudava, celebrando com hinos pop como Girls and Boys ou To The End a vida do dia a dia na forma de canções pop capazes de entusiasmar grandes plateias. O disco gerou um fenómeno, catapultou os Blur para um plano de popularidade maior (que os chegaria a incomodar) e fez de Damon Albarn, o vocalista do grupo, um ícone pop.

O tempo mostraria que Damon era mais um escritor de canções do que uma “estrela” a habitar a galáxia dos famosos. E quando os Blur entraram em modo de “pausa” (do qual já saíram para concertos, dois singles, havendo a dúvida de eventual álbum no horizonte), vimo-lo a criar com Jamie Hewlett os Gorillaz, a juntar-se a Tony Allen, Paul Simonon (ex-Clash) e Simon Tong (Verve) para formar os The Good The Bad and The Queen, a gravar discos em África e com músicos africanos e a experimentar os palcos da ópera com Monkey: Journey To The West (2008) e Dr. Dee (2012), esta última tendo conhecido gravação em disco, assinada em nome do músico.

Todavia, Everyday Robots é o primeiro álbum de estúdio a solo que Damon Albarn edita. Gravado entre 2011 e 2013, contando, entre outros músicos, com as colaborações de Brian Eno ou Natasha Khan (Bat For Lashes), é um disco musicalmente rico em acontecimentos (seguindo de resto uma maneira curiosa de estar na música que cruza a sua obra) revelando essencialmente trovas suaves e pessoais, o “eu” que é aqui o centro de gravidade das canções cedendo pontualmente protagonismo a um bebé elefante órfão que vira na Tanzânia em Mr. Tembo

O piano, mais que a guitarra, é aqui um ponto de partida, a definição de ambientes (tanto através da instrumentação como pelo trabalho vocal) mostrando um labor atento ao detalhe, que alia à construção poética das palavras e à melodia que as veicula uma noção de espaço cénico que a cada uma atribui uma paisagem, em conjunto o disco propondo uma galeria de quadros suaves e elegantes que convidam à descoberta. Longe do maior imediatismo pop dos hinos que os Blur lançaram faz hoje 20 anos, Everyday Robots é um depoimento seguro de um escritor de canções veterano, certo de que é das canções e não da fama que vive a sua música.

PS. Este texto é uma versão longa de um texto publicado na edição de 25 de abril do DN com o título 'As muitas vidas de um veterano que seguimos há 25 anos'