segunda-feira, abril 14, 2014

Novas edições:
Clã, Corrente

Clã 
“Corrente” 
ed. Autor / Parlophone 
4 / 5 

Pelo que nos contaram nas entrevistas que acompanharam o lançamento do seu sétimo álbum de estúdio os Clã debateram internamente a ideia de voltar aos discos tal e qual até aqui os conhecíamos (ou seja, antes do advento de uma nova forma de consumir música que se expressa tanto nos comportamentos do mercado da música gravada no nosso tempo como pela mudança de hábitos que o digital trouxe a este universo). Chegaram à conclusão que valia a pena continuar a fazer discos. E ainda bem que assim o entenderam, representando Corrente mais um seguro episódio numa das mais notáveis discografias que a cultura pop made in Portugal tem conhecido. Três anos depois de um Disco Voador que os fez experimentar outros caminhos (e sobretudo outros públicos), Corrente surge assim como o natural sucessor de Cintura (2007) e do maravilhoso Rosa Carne (disco de 2004 animado por uma lógica temática mais focada, poderemos dizer concetual?), a obra-prima da discografia dos Clã até este momento. Trata-se acima de tudo de um disco de natural reencontro com o tutano da alma central que tem caracterizado a obra de um grupo de vistas musicais sempre largas e desde cedo aberto ao diálogo com vários letristas. Assim, e a habituais colaboradores como Sérgio Godinho, Arnaldo Antunes ou Carlos Tê, entre outros, juntam agora as presenças de Samuel Úria e Nuno Prata, alargando um mapa de referências que, pela música (e, convenhamos, o poder tremendo da voz interpretativa de Manuela Azevedo), não perde nunca um sentido de corpo uno e coerente. Corrente pode não representar um momento ímpar como o que os Clã nos deram no disco de há dez anos. Mas assinala um reencontro bem nutritivo com o rumo central da sua obra. E assim vale a pena continuar, já que o melhor da pop que se faz entre nós continua a passar por aqui.

PS. Este texto foi publicado na edição online do DN