Blancmange
“Happy Families Too... The Story So Far”
Cherry Red Records
2 / 5
A forma de dieta de contar a história da música segundo o prisma anorético das “nostalgias” não só reduz muitas vezes carreiras a uma ou duas canções como frequentemente esquece todos aqueles que não conseguiram um lugar no panteão dos “famosos”. Os Blancmange, importante força da geração pop electrónica que fez escola no Reino Unido na primeira metade dos oitentas, são muitas vezes secundarizados ou mesmo esquecidos e, quando recordados, tantas vezes reduzidos a Don’t Tell Me ou Living on The Ceiling, os dois singles de maior sucesso da sua discografia. A verdade é que este duo britânico – e sobretudo os seus dois primeiros álbuns, Happy Families (1982) e Mange Tout (1984) – não estão aquém do que por essa altura assinavam nomes hoje mais vezes recordados como os OMD, Human League, Soft Cell, Yazoo, Heaven 17 ou Depeche Mode, todos eles com créditos reconhecidos no mesmo comprimento de onda. À prática de uma pop luminosa feita com electrónicas os Blancmange juntavam uma postura vocal mais angulosa (de evidente herança pós-punk) e um gosto pelo exotismo nos temperos (que ganharia maior visibilidade ainda no projeto West India Company que Stephen Luscombe, um dos elementos do duo, editaria depois da primeira separação, na segunda metade dos oitentas). Após um longo hiato, os Blancmange reuniram-se e editaram o (inconsequente) Blanc Burn em 2011. O regresso à atividade levou-os à estrada. E dessa vivência nasceu uma proposta de revisão das canções do álbum de estreia, segundo princípios de mais evidente minimalismo e polimento menos intenso, que agora se projetam neste Happy Families Too... The Story So Far. Originalmente apenas disponível nos concertos, este disco é assim um ponto de vista que, 30 anos depois, devolve os músicos à reflexão sobre a sua própria obra. Sem o golpe de génio dos Sparks em Plagiarism (álbum de 1997 no qual revisitavam temas do seu catálogo), este disco mostra as canções em leituras despidas da intensidade luxuriante da produção da época. Mais próximas do osso as canções traduzem assim a genética new wave dos músicos e exalam um sabor a reencontro com verdades originais. Mais um exercício de estilo que um projeto musicalmente consequente, o disco é apenas uma curiosidade, com dispensáveis novas remisturas como extra e mais um tema inédito (curiosamente o melhor instante do alinhamento). Nota para a capa, também ela uma variação interpretativa sobre a que nos trazia o disco original, em 1982.