A idade dos vikings não se explica nem esgota apenas num contexto escandinavo nem no mapa do Norte da Europa. Na introdução do catálogo que o British Museum apresenta com esta exposição, Gareth Williams (um dos seus três principais autores) observa que os vikings criaram uma rede de contactos pelos quais exerceram influências distintas junto dos diversos povos com os quais interagiam. É celebre, de resto, o exemplo da Guarda Varegue, um corpo de elite de origem viking que esteve ao serviço pessoal dos imperadores de Bizâncio entre os séculos IX e XIV. (2)
Esse mapa de trocas e contactos representa assim o primeiro módulo da exposição que, sob a designação Contacts & Exchange (contactos e trocas), dá conta da impressionante abrangência cultural e geográfica da esfera de influência viking. Os módulos seguintes, focam questões militares e a sua expansão como conquistadores, os modelos de poder (e caracterização da aristocracia que o detinha) e ainda os espaços das crenças e rituais que caracterizavam o comportamento social das comunidades escandinavas deste tempo.
Esse mapa de trocas e contactos representa assim o primeiro módulo da exposição que, sob a designação Contacts & Exchange (contactos e trocas), dá conta da impressionante abrangência cultural e geográfica da esfera de influência viking. Os módulos seguintes, focam questões militares e a sua expansão como conquistadores, os modelos de poder (e caracterização da aristocracia que o detinha) e ainda os espaços das crenças e rituais que caracterizavam o comportamento social das comunidades escandinavas deste tempo.
A história da palavra viking não tem um sentido único nem é precisa. No norueguês antigo, explica Gareth Williams, as palavras víkingr e viking tinham significados associados a ideias de assaltos e de pirataria. Hoje, como adverte no texto de introdução ao catálogo, a expressão é usada para referir a cultura de origem escandinava que floresceu aproximadamente entre o ano 800 e 1050. As origens da palavra são “obscuras”, diz, reparando uma possível relação com a palavra vik (baía ou recanto na costa), que ainda hoje observamos em nomes como, por exemplo, o da capital islandesa: Reykjavik. Há assim a hipótese de esta designação decorrer diretamente de piratas que usavam esses recantos para se esconder, daí saindo para atacar navios que passassem perto. O texto aponta também como possível origem uma ligação ao fjord frente a Oslo, que ainda hoje é conhecido pelo nome alternativo de viken (ou seja, a baía). O autor refere uma terceira possibilidade com uma explicação mais do foro comercial, apontando a designação latina de vicus (ou wic em inglês arcaico), designando centros de trocas nas regiões costeiras do mar do Norte, muitos deles em rios navegáveis, como Wijk bij Duurstede (Holanda), Ipswich (Reino Unido) ou até mesmo nomes antigos de cidades como Eofirwic (York) ou Lundenwic (Londres).
Não há contudo uma resposta definitiva. Gareth Williams lança mesmo hipóteses de interpretação diferentes a partir de uma possível origem a partir de uma derivação da palavra wic: “Seria o wicing original o mercado pacífico dos estudos viking posteriores a 1970” ou antes o “arquétipo do pirata” ou ainda “um estrangeiro de origem indeterminada” que visitava estes centros populacionais costeiros “para fins pacíficos ou violentos”. O autor lembra que as fronteiras entre assaltar e fazer comércio por vezes são pouco nítidas ao longo da história, como recorda por exemplo com o caso do tráfico de escravos.
A construção mais “tradicional” de uma imagem dos vikings surgiu no século XIX e passa essencialmente através de histórias de guerreiros e de incursões navais. Esta noção, explica Gareth Williams em Warefare & Military Expansion, terá as suas origens em relatos da época de origem anglo-saxónica, franca ou irlandesa, juntamente com as narrativas das sagas islandesas de finais do século XIII, contando ainda com “um elemento substancial do romantismo do século XIX”. Os estereótipos dos marinheiros violentos, com armas superiores e capazes de feitos incríveis a bordo dos seus navios, como descreve, tem na verdade um pouco de verdade e de ficção. “Os vikings nem eram invulgarmente atrozes nem universalmente bem-sucedidos em batalha” e desde os anos 1960 os historiadores interpretam as sagas de um ponto de vista mais crítico, os achados arqueológicos mais recentes tendo também contribuído para um conhecimento mais abrangente dos povos e seus comportamentos. Por isso mesmo, acrescenta o autor, o retrato exclusivamente violento dos vikings foi parcialmente derrubado por uma visão mais pacífica da sua idade dos vikings. Isto não apaga todavia a importância de aspetos militares fundamentais na caracterização das sociedades escandinavas entre os séculos IX e XI. A profusão de armas expostas no Museu Britânico evidencia, de resto, a presença clara de uma produção de objetos de ataque e defesa entre machados, espadas, arcos e flechas e escudos (um deles, particularmente raro e robusto, achado em Gokstad, na Noruega, data do século IX, é feito em madeira de pinho e tem 94 centímetros de diâmetro). O seu empunhar sublinha, naturalmente, a imagem romântica do viking guerreiro.
(2) Varegue era a designação usada pelos gregos e os eslavos de leste para referir os vikings.