quinta-feira, abril 24, 2014

Cinema para ver e falar

Tem hoje lugar no Teatro Turim, em Lisboa, o quarto “episódio” do ciclo Bobine Rebellis, que propõe juntar filmes de jovens realizadores portugueses a profissionais do meio que os comentem. Como comentadores por lá passaram Gonçalo M. Tavares, eu mesmo e a Teresa Tavares. Hoje (pelas 21.30) é a vez do ator José Neto comentar os filmes:

Chico Malha, de Guilherme Gomes
Contos das Coisas, de Joana Peralta
Why Not Squares Instead of Circles?, de Joana Peralta e Marta Ribeira
As Flores do Mal, de Flávio Gonçalves

Pedro Cabeleira, um dos responsáveis por este ciclo, explica nesta pequena entrevista o que este ciclo pretendeu fazer:

Como surge este ciclo e como foram escolhidos os filmes?
O ciclo surge através de uma proposta do Teatro Turim, que queria perceber como poderia recuperar o seu espaço enquanto sala de cinema (como foi durante muitos anos). Nós vimos nisto uma oportunidade para ter uma sala e uma tela grande para exibir filmes de jovens cineastas, que foram pensados para serem vistos em cinema e que não mereciam ficar perdidos numa ou duas (ou nenhuma) exibições marginais (ou num ecrã de computador). Também nós somos cineastas em início de carreira e estamos muito próximos de casos em que há muita qualidade para ser mostrada sem nenhuma oportunidade à vista. Abordámos vários novos cineastas e todos se mostraram interessados em colaborar com o ciclo e entusiasmados pela possibilidade de verem os seus filmes projectados em grande. A partir daí, fomos construindo o programa do evento com o cuidado de termos filmes muito diferentes uns dos outros dentro de cada sessão para não ser limitativo em termos de gostos, procurando assim facilitar o encontro, a discussão e a partilha - independentemente das sensibilidades estéticas em causa.

Como enfrenta um jovem estudante de cinema um panorama profissional hoje, uma vez terminado um curso?
Existem várias possibilidades. No entanto, uma das tendências passa pela aceitação de estágios não-remunerados em algumas produtoras, com a expetativa de conquistar um lugar e ir progredindo aos poucos. Daí a importância e a urgência deste ciclo. Há muita vontade dos jovens em fazer cinema. E com os meios técnicos cada vez mais fáceis de alcançar, começam a surgir cada vez mais pessoas com visões muito interessantes e particulares a precisarem praticamente apenas de uma câmara e de aquilo que têm à mão para se expressar como um pintor só precisa de um pincel ou um escritor de uma caneta. Ainda são poucos meios mas mesmo assim conseguem desenvolver os projetos e levá-los até ao fim. É importante que comecem a existir mais iniciativas como esta, que se criem espaços para divulgar esta vontade de expressão ao público e em grande ecrã, como é tradicional em cinema.

Além dos festivais de cinema onde pode um jovem cineasta mostrar os seus filmes? 
Além dos festivais de cinema, não existem muito mais espaços para divulgação dos filmes, pelo menos no que toca à projecção de filmes em grande ecrã.. Existe o Short Cuts, que faz sessões semanais e os festivais ocasionais. De resto, só a internet (que se tem vindo a tornar uma forma de divulgação cada vez mais forte) ou a distribuição de DVDs em mão, directamente às pessoas. Mas isso não é a mesma coisa que ver filmes num cinema. E nos festivais, além de Vila do Conde, as curtas-metragens raramente são o destaque, o que pode dificultar as coisas.

Este tipo de ciclo pode ter continuidade?
Pode e em princípio terá. Surgiram propostas de mais alguns espaços e está agora a projectar-se uma 2ª edição mais extensa para acontecer novamente no Teatro Turim.