A expressão “formalismo” muitas vezes parece ser encarada como “palavrão”. Mas será que o é? Falo em concreto do cinema de Wes Anderson que, depois de belos ensaios de uma linguagem muito pessoal em filmes magníficos como, por exemplo, Um Peixe Fora de Água (2004) ou Darjeeling Limited (2007), achou expressão maior dessa visão no plasticamente deslumbrante Moonrise Kingdom (2012), juntando o novo Grand Budapest Hotel uma solidez narrativa ao que era já um terreno visual claramente demarcado.
É contudo pelas imagens que somos convidados a descobrir este velho hotel que mora nas montanhas de um país fictício algures na Europa central. É pelo recurso a miniaturas que descobrimos os exteriores do hotel e dos espaços ao seu redor, os planos de interiores alargando a construção de um mundo de formas e cores sem vontade em usar muito o travão, tanto no presente onde a ação é recordada (em registo de saborosa evocação das cores quentes dos setentas) como aquele em que os factos descritos decorreram, mais atrás no tempo, algures os vintes e a alvorada dos trintas, sob a evidente entrada em cena de ideologias nacionalistas e um mundo em contagem decrescente para uma guerra (que de facto eclode).
Com um elenco de luxo – onde encontramos alguns “clientes habituais” no cinema de Wes Anderson e alguns estreantes, mas numa das mais impressionantes galerias de estrelas que vimos nos últimos tempos num só filme – Grand Budapest Hotel tem a vertigem narrativa, com hilariante dose de nonsense – de um Peixe Fora de Água e o aprumo visual que Moonrise Kingdom afinou a um patamar de excelência. Conta-nos a história de um maître d'hotel que recebe uma herança de uma velha rica, junta roubos e familiares pouco interessados em ceder os bens da defunta, militares, fugas, monges, suculentos bolos de creme e um paquete que, afinal, é aquele quem no presente nos confia a história que viveu.
O exigente (e bem afinado) trabalho de art direction garante de facto ao filme uma das suas mais vivas vozes. Mas a narrativa é empolgante, apresentada a um ritmo imparável. As personagens podem ter pouco mais profundidade que a que pede o facto de muitas serem essencialmente o veículo das respetivas expressões visuais. Formalista? Sim, sem dúvida. E um belíssimo exemplo de como o formalismo pode servir o contar de uma história num grande ecrã.
PS. Nada como ter visto o filme para entender o título do post.