sábado, abril 12, 2014

Alain Finkielkraut no nosso mundo virtual

* O filósofo francês Alain Finkielkraut foi eleito para a Academia Francesa (que passou a integrar, oficialmente, no dia 10 de Abril) — sugiro, a esse propósito, a leitura do perfil publicado, em 2013, no jornal Le Monde, ou ainda a página que lhe é dedicada na edição francesa da Wikipedia.

* Digamos, para simplificar, que a eleição de Finkielkraut tem sido, em França, tudo menos pacífica. Razão principal: algumas das suas tomadas de posição sobre aquilo que designa como uma "crise identitária" da França e, em particular, sobre as formas de integração dos estrangeiros no tecido social francês — veja-se o seu livro mais recente: L'Identité Malheureuse.

* O mínimo que se pode dizer é que, de facto, a visão de Finkielkraut, discutível por certo, merece ser discutida, sobretudo porque nela se resiste ao paternalismo corrente das mais variadas "globalizações", mais ou menos automáticas e demagógicas. Citação:

"A nossa herança, que como é óbvio não faz de nós seres superiores, merece ser preservada, vivida e transmitida tanto aos autóctones como aos novos que chegam. Resta saber, num mundo que substitui a arte de ler pela interconexão permanente e que interdita o elitismo cultural em nome da igualdade, se ainda é possível herdar e transmitir."

* Dito de outro modo: não é necessário "santificar" Finkielkraut, ou concordarmos em absoluto com ele, para reconhecermos que o seu labor resiste aos automatismos de um pensamento virtual (pelos meios e pela inscrição) que se esgota no imediatismo da performance mediática, menosprezando o peso imenso e contraditório do que, justamente, é matéria e espírito de herança.

* A motivação destas linhas não está apenas na necessidade de não escamotear a pluralidade da obra de Finkielkraut, ele que assinou — com Pascal Bruckner — esse livro que define os êxtases e os impasses de uma época, ostentando o título emblemático A Nova Desordem Amorosa (1977), e ainda, entre muitos outros, La Sagesse de l'Amour (1984), L'Humanité Perdue (1996) e Un Cœur Intelligent (2009). Gostaria também de registar a facilidade intelectual e, muito simplesmente, a falta de respeito de que Finkielkraut é objecto nos sites dos jornais Libération e Le Monde — isto, entenda-se, sem menosprezar a pluralidade de abordagens que, nas respectivas páginas, podemos encontrar a pretexto da polémica entrada do autor na Academia.

* Acontece que ambos os jornais fazem um retrato "videográfico" de Finkielkraut — chamando-lhe "profeta da desgraça" e "obcecado" [a segunda reproduzida aqui em baixo] — que aplica a lógica mais simplista das montagens televisivas, reduzindo o respectivo protagonista a uma marioneta de "apanhados" mais ou menos breves, anedóticos, alheios a qualquer contextualização pertinente. O que está em causa não é que se possa estar em desacordo com Finkielkraut; é, isso sim, o facto de a complexidade estrutural do seu pensamento não merecer ser tratada com esta ligeireza jornalística.


Finkielkraut : l'obsession de l'immigration por lemondefr